Os ltimos oito anos foram de mudana e afirmao para Sthfany Alves, hoje com 21 anos. A partir dos 11 anos, ao se vestir e se reconhecer de fato como mulher, Sthfany descobriu na identidade feminina uma resposta para um constante vazio que, como menino, sentia desde a infncia. Aos 13, assumiu de vez a nova identidade de gnero que a completou - e no desceu mais do salto. x3x4l
O pai at hoje no a compreendeu e no fala com Sthfany h oito anos, desde a mudana. A me, por outro lado, deu todo incentivo do mundo. “Ela sempre me apoiou muito e cobriu at a falta desse afeto paterno. Meu irmo tambm me aceitou totalmente, cuida de mim e hoje tem at cimes quando me v com algum”, conta, sorridente.
Se da escola a excluso e a discriminao so at hoje as principais lembranas, no mercado de trabalho Sthfany comea a se encontrar. H cerca de um ano, ela trabalha como cabeleireira e maquiadora em um salo do Centro de Gaspar e est cursando Gesto e Negcios. Nessa rea, encontrou total aceitao. “Infelizmente, o mercado de trabalho ainda um grande obstculo. H muita dificuldade para uma trans conseguir qualquer emprego registrado. Em fbricas mesmo, impossvel. Um grande desejo nosso de que o mercado abra mais as portas para ns”, diz.
Moradora do bairro Coloninha, Sthfany nasceu e cresceu em Gaspar e considera a cidade muito preconceituosa. Os primeiros contatos com a discriminao ocorreram ainda na escola, onde era a primeira acusada de qualquer situao anormal. At hoje, em festas e no dia a dia, Sthfany afirma que a rejeio presena constante. “Os amigos e familiares, que me conhecem, so os que me tratam melhor. Na maioria das outras pessoas voc consegue ver o preconceito”, conta.
O fim da homofobia uma causa urgente para ela. Casos de violncia envolvendo a cabelereira so frequentes. Ao ar pela praa na volta do trabalho, j foi apedrejada e teve que correr para no ser agredida. Ameaas de morte por homofbicos tambm so rotineiras. “H uns meses, voltando para casa com uma amiga trans, chegamos a levar tiros de um homem que ou por ns de carro. Tivemos que nos esconder em um matagal para escapar. Fui delegacia de Gaspar denunciar o caso e tive que ouvir que isso no era motivo de B. O. (boletim de ocorrncia). Tudo isso di muito. No queremos ser melhores do que ningum, s queremos os mesmos direitos”, clama Sthfany.
No ltimo dia 14 de dezembro, Gaspar realizou a 1 Conferncia Municipal LGBT. O encontro teve duas palestras sobre polticas para gays, lsbicas e transexuais e enfrentamento aos casos de violncia e homofobia. Trabalhos de grupos sobre educao e violncia tambm foram realizados. Os resultados sero levados s conferncias estadual e nacional LBGT, em 2016.
Uma das palestrantes, a professora Ivone Fernandes Morcilo Lixa, ps-doutora em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, afirma que os dados mostram que o pas ainda vive um momento de violncia extrema contra homossexuais. “Somos campees mundiais nesse assunto. So mortes muito violentas, com arma de fogo, pauladas, pelo simples fato de sua orientao sexual. necessrio que se fale desse assunto, pois atravs do esclarecimento que poderemos caminhar para um futuro mais promissor”, destaca.
Questo de Estado
Segundo ela, o modelo de Estado que precisa ser buscado o que elimine diferenas para promover avanos sociais significativos. O professor Sandro Luiz Cifuentes, outro palestrante da Conferncia LGBT, focou na preocupao com a excluso de alunos com orientao homossexual nas escolas. “Nossa escola ainda v o homossexual como o ‘anormal’, 48% das motivaes de bullying so a orientao sexual. preciso que as escolas trabalhem a questo da identidade de gnero para no serem mais lugares de marginalizao e excluso, como foram no ado”, ressaltou.
- Criminalizao da homofobia
- Mais aceitao ao casamento gay e adoo para casais homoafetivos
- Maior incluso no mercado de trabalho para a populao LGBT
- Garantia de proteo ao denunciar casos de violncia em delegacias
- Mais trabalhos sobre sexualidade e identidade de gnero nas escolas
Mais sobre o assunto:
- IMIGRANTES: As batalhas dirias dos haitianos em Gaspar
- DEFICIENTES: o autismo e a luta pela incluso
- MULHERES: Nas ruas pela igualdade
- NEGROS: contra a banalizao do racismo
- MURAL DE NATAL: atraes natalinas marcaram o ms de dezembro
Copyright Jornal Cruzeiro do Vale. Todos os direitos reservados. proibida a reproduo do contedo desta pgina em qualquer meio de comunicao, eletrnico ou impresso, sem autorizao escrita do Jornal Cruzeiro do Vale ([email protected]).