Jejuar ajuda a emagrecer? Veja o que diz a cincia - Jornal Cruzeiro do Vale 3q3x4i

Jejuar ajuda a emagrecer? Veja o que diz a cincia o624n

14/12/2017
Jejuar ajuda a emagrecer? Veja o que diz a ci

Grande parte dos experts emnutriose sente desconfortvel com o costume de tachar um alimento de mocinho ou vilo, como se s um ingrediente fosse capaz de alavancar ou detonar a sade. Mas, hoje, a discusso vai alm. Se o papo esbarrava em questes como “devo comer isso?”, agora a dvida : “devo comer?”. Pois ,jejuarno s entrou no rol de possveis estratgias paraemagrecercomo tem sido a escolha de um monte de gente.

A privao de comida no chega a ser uma novidade, apesar de soar assim. Por motivos de escassez, l no tempo das cavernas, ou por razes religiosas, o homem foi (e ainda ) constantemente desafiado pelojejum. Basta pensar no ms do Ramad, quando os muulmanos ficam sem comer desde o amanhecer at o pr do sol durante cerca de 30 dias. Oscientistas, sempre curiosos, esto h dcadas de olho nos efeitos da abstinncia alimentar.

O que pegou muitos estudiosos de surpresa foi a promoo-relmpago dojejumintermitente ao posto de mtodo de emagrecimento do momento. “S que esse sucesso todo no se observa no meio cientfico”, adianta o endocrinologista Bruno Geloneze, professor daUniversidade Estadual de Campinas(Unicamp). Sim, h uma poro de experimentos comanimais, principalmente visando longevidade– o interesse pelaobesidadeveio depois. Mas os achados, assim como aqueles que vm de uma ou outra pesquisa com seres humanos, no permitem tirar concluses precipitadas a favor da nova onda.

Benefcios a curto prazo 2r6sn

Isso no significa, porm, que ojejumfalhe em baixar o ponteiro na balana. Parece contraditrio, n? Mas uma pesquisa recente daUniversidade de Illinois, nos Estados Unidos, ilustra bem a dimenso do debate. Publicada em um respeitado peridico cientfico, ela contou com a participao de 100 obesos, que foram divididos em trs grupos: o primeiro aderiu a um tipo dejejum, o segundo reduziu as calorias e o terceiro continuou a vida normal. Quer saber o placar?

A turma da barriga vazia seguiu um modelo assim: no dia da privao, devia consumir 25% das necessidades calricas. Complicou? Bem, vamos supor que, normalmente, esses indivduos pudessem ingerir 2 mil calorias. Ento, nojejum, teriam disposio somente 500 calorias. Por outro lado, no dia seguinte estavam liberados para chegar a 125% das suas necessidades calricas, isto , 2 500 calorias. Em resumo: ora comiam mseras 500 calorias, ora se refestelavam com cinco vezes mais do que isso. J entre a parcela que ou pela restrio clssica, a orientao foi cortar, todos os dias, 25% das necessidades calricas habituais – seria o equivalente a comer 1 500 calorias em vez de 2 mil.

Os voluntrios ficaram um ano nessa toada. Depois disso, veio o primeiro resultado: quem caiu em um desses dois grupos (dojejumou da restrio) emagreceu mais em comparao quele pessoal que no recebeu nenhuma instruo diettica. At a, nada de novo. A grande descoberta do projeto veio, claro, ao comparar as duas intervenes. que, no fim das contas, ambas levaram praticamente ao mesmo desfecho. Enquanto jejuar enxugou o peso em 6%, maneirar nas garfadas diariamente reduziu em 5,3%.

“Esse dado mostra que, para emagrecer, no preciso ar por um processo que muitas vezes causa desconforto”, analisa a endocrinologista Maria Edna de Melo, presidente daAssociao Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Sndrome Metablica(Abeso). Que o digam os voluntrios de Illinois. “Ojejumintermitente teve maior ndice de rejeio entre os que seguiram esse plano”, nota o bilogo Bruno Chausse, pesquisador do Laboratrio de Metabolismo Energtico doInstituto de Qumica da Universidade de So Paulo(USP).

Chausse, um dos cientistas brasileiros dedicados a entender os efeitos da prtica nometabolismo, levanta uma hiptese para explicar por que to penoso mant-lo. “Em muitos estudos, ojejumincita o aumento nos nveis de neurotransmissores que estimulam a fome”, explica. Para a nutricionista Sophie Deram, autora do livroO Peso das Dietas(Editora Sensus), isso totalmente compreensvel. “Trata-se de uma defesa do prprio corpo para fazer voc comer”, resume.

Para ter ideia, em trabalhos com animais que no comiam absolutamente nada durante 24 horas em dias alternados, Chausse reparou que, no perodo em que eles podiam se alimentar livremente, quase compensavam a fase da penria. Na prtica, como se algum ingerisse zero caloria em um dia e, no outro, em vez das habituais 2 mil calorias, devorasse incrveis 3 800. Apesar da fome desmedida, o pesquisador da USP percebeu que os bichos realmente estavam mais magrinhos ao fim da experincia.

No entanto, ele tem ponderaes. A primeira diz respeito ao tempo de anlise: somente um ms. que em outro trabalho conduzido em seu laboratrio, cuja durao foi de oito meses, deu para constatar que a perda de peso veio acompanhada de ameaas sade. “Embora magros, os animais dojejumapresentavam mais gordura corporal em relao aos que fizeram a restrio calrica”, informa. Tal caracterstica contribui, por exemplo, para maior resistncia ao da insulina, o que dificulta o aproveitamento doacarno sangue e pavimenta o caminho para o surgimento dodiabetes tipo 2.

Nesse estudo mais prolongado, ainda se observou que as cobaias submetidas aojejumtinham concentraes mais altas de radicais livres – em excesso, essas molculas instveis danificam as clulas do corpo. “Portanto, levando em conta nossas pesquisas, ojejumparece gerar benefcios em curto prazo. Mas, l na frente, poderia ser prejudicial”, interpreta Chausse.

Procura-se: veredicto 1r23x

O fato que a cincia ainda est caa de um veredicto sobre a absteno alimentar. “Existem diferentes protocolos dejejumintermitente em pesquisas com roedores. Sem contar que, ao mudarmos as variveis, como o tempo de restrio, fica difcil comparar os resultados”, justifica o bilogo Leandro Manfredi, professor naUniversidade Federal da Fronteira Sul, campus Chapec, em Santa Catarina.

Recentemente, ele assinou uma reviso de estudos sobre o mtodo. “Temos pelo menos seis trabalhos na literatura apontando que ojejumintermitente previne ou reverte aspectos comogordura abdominal,presso altae resistncia insulina”, cita Manfredi. Entre as teorias por trs disso est a de que a prtica melhora a forma com que o corpo usa as gorduras para gerar energia e propicia um alvio nos processos inflamatrios.

Para Geloneze, da Unicamp, esses possveis ganhos no so patrimnio exclusivo dojejum. “Qualquer processo baseado na restrio de calorias culmina na mobilizao de reservas. E o nico nutriente que temos estocado em grande quantidade a gordura”, ensina. “Alm disso, emagrecer significa elevar as taxas docolesterol bom, o HDL, e diminuir inflamao, presso, glicemia e triglicrides. Portanto, atribuir tudo aojejum uma distoro da realidade”, defende. Trocando em midos, os benefcios viriam na rabeira da perda de peso – independentemente de como ela ocorra.

A nutricionista Sophie ite que alguns dados envolvendo a privao de comida so bastante interessantes. Ela se diz especialmente animada com a possibilidade de essa estratgia fazer as clulas do pncreas voltarem a funcionar em caso de diabetes. Ora, se esse rgo mantiver sua produo de insulina, o acar no fica dando sopa na circulao. “Mas isso a gente v em estudos bem controlados e dentro de laboratrios. No para fazer em casa”, frisa. Mais: segundo Sophie, um disparate recorrer a essas informaes para defender ojejumcomo mtodo de emagrecimento. “Trata-se de uma deturpao da cincia”, opina.

61n5s
Fonte: Super Interessante 555g6k