27/09/2017 1k4039
O primeiro a elaborar uma ecologia da Terra como um todo, ainda nos anos 20 do sculo ado, foi o geoqumico russo Vladimir Ivanovich Vernadsky (1963-1945). Ele conferiu carter cientfico expresso “biosfera” criada em 1875 por um gelogo austraco Eduard Suess. Nos anos 70, com James Lovelock, se desenvolveu a teoria de Gaia, a Terra que se comporta como um super-organismo vivo que sempre produz e reproduz vida. Gaia, nome grego para a Terra viva, no tema da New Age mas o resultado de minuciosa observao cientfica.
A compreenso da Terra como Gaia oferece a base para polticas globais, como por exemplo, o controle do aquecimento da Terra. Se ultraar dois graus Celsius, (estamos prximos a isso) milhares de espcies vivas no tero capacidade de se adaptar e de minimizar os efeitos negativos de tal situao mudada. Desapareceriam. Se ocorrer, ainda neste sculo, um “aquecimento abrupto”(entre 4-6 graus Celsius) como preve a sociedade cientfica norte-americana, as formas de vida que conhecemos no subsistiriam e grande parte da Humanidade correria grave risco em sua sobrevivncia.
Vrios cientistas, especialmente o prmio Nobel em qumica, o holandes Paul Creutzen, e o bilogo Eugene Stoemer se deram conta, j no ano 2000, das mudanas profundas ocorridas na base fsico-qumica da Terra e cunharam a expresso antropocenteno. A partir de 2011 a expresso j ocupava pginas nos jornais.
Com o antropoceno se quer sinalizar o fato de que o grande ameaador da biosfera que o habitat natural de todas as formas de vida, a agresso sistemtica dos seres humanos sobre todos os escossistemas que, juntos, formam o planeta Terra.
O antropoceno uma espcie de bomba-relgio sendo montada, que explodindo, pode pr em risco todo o sistema-vida, a vida humana e a nossa civilizao. Coloca-se a pergunta: que fazemos coletivamente para desarm-la? Aqui importante identificar o que fizemos para que se constituisse esta nova era geolgica? Alguns a atribuem introduo da agricultura h 10 mil anos quando comeamos a interferir nos solos e no ar. Outros acham que foi nos meados do sculo 18 quando iniciou o processo industrialista que implica muma sistemtica interveno nos ritmos da natureza, com a ejeo de poluentes nos solos, nas guas e no ar. Estoutros colocam a data de 1945 com a exploso de duas bombas atmicas sobre o Japo e os posteriores experimentos atmicos que espalharam radioatividade pela atmosfera. E nos ltimos anos, as novas tecnologias tomaram conta da Terra, exaurindo seus bens e servios naturais mas tambm causando o lanamento na atmosfera de toneladas de gazes de efeito estufa e bilhes e bilhes de litros de fertilizantes qumicos nos solos que causam o aquecimento global e outros eventos extremos.
O imperativo categrico que urge mudar a nossa relao para com a natureza e a Terra. No d mais para consider-la um balco de recursos que podemos dispor ao nosso bel-prazer, mormente, visando a acumulao privada de bens materiais. A Terra pequena e seus bens e servios limitados. Cumpre produzir tudo o que precisamos, no para um consumo desmedido mas com uma sobriedade compartida, respeitando os limites da Terra e pensando nas demandas dos que viro depois de ns. A Terra pertence a eles e a tomamos emprestado deles para devolve-la enriquecida.
Como se depreende, releva enfatizar que temos que inaugurar o contra-ponto era do antropoceno que a era do ecoceno. Quer dizer: a preocupao central da sociedade no ser mais o desenvolvimento/crescimento sustentvel mas a ecologia, o ecoceno, que garantem a manuteno de toda a vida. A isso deve servir a economia e a poltica.
Para preservar a vida importante a tecno-cincia mas igualmente, a razo cordial e sensvel. Nela se encontra a sede da tica, da compaixo, da espiritualidade e do cuidado fervoroso pela vida. Esta tica do cuidado imbuda de uma espiritualidade da Terra nos comprometer com a vida contra o antropoceno. Portanto, faz-se mister construir uma nova tica que nos abra para uma nova tica, colocar sobre nossos olhos uma nova lente para fazer nascer uma nova mente. Temos que reinventar o ser humano para que seja consciente dos riscos que corre, mas mais que tudo, que desenvolva uma relao amigvel para com a Terra e se faa o cuidador da vida em todas as suas formas.
H 65 milhes de anos caiu um meteoro de 9,6 km de extenso na Pennsula de Yucatn no Mxico. Seu impacto foi o equivalente a 2 milhes de vezes a fora da uma ponderosa bomba nuclear. Trs quartos das espcies vivas desapareceu e junto com elas todos os dinossauros depois de terem vivido por 133 milhes de anos sobre a face da Terra. O nosso ancestral, pequeno mamfero, sobreviveu.
Oxal desta vez o meteoro rasante no sejamos ns, sem responsabilidade coletiva e sem o cuidado essencial que protege e salva a vida.
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