Natal em tempos de Herodes - Jornal Cruzeiro do Vale 51353k

O Natal deste ano ser diferente de outros natais. Geralmente a festa da confraternizao das famlias. Para os cristo a celebrao da divina Criana que veio para assumir nossa humanidade e faze-la melhor.

No contexto atual, porm, em seu lugar assomou a figura do terrvel Herodes. o Grande (73 a.C-4-a. C), ligado matana de inocentes. Zeloso por seu poder, ouviu que nascera em seu reino, a Judia, um menino-rei. Foi quando ordenou degolar todas os meninos abaixo de dois anos (Mt 2,16). Ouviu-se ento uma das palavras mais dolentes de toda Bblia:”Em Ram se ouviu uma voz, muito choro e gemido: Raquel que chora os filhos e no quer ser consolada, porque eles j no existem”(Mt 2,18).

Essa histria do assassinato de inocentes continua de outra forma. As polticas ultracapitalistas impostas pelo atual governo, tirando direitos, diminuindo salrios, cortando benefcios sociais bsicos como sade, educao, segurana, aposentadorias e congelando por 20 anos as possibilidades de desenvolvimento tm como consequncia uma perversa e lenta matana de inocentes da grande maioria pobre de nosso pas.

Aos legisladores no so desconhecidas as consequncias letais, derivadas da deciso de consider mais importante o mercado que as pessoas.

Dentro de poucos anos, teremos uma classe de super-ricos (hoje so 71.440 segundo IPEA, portanto,0,05% da populao),uma classe media amedrontada pelo risco de perder seu status e milhes de pobres e prias que da pobreza aram para misria. Esta significa fome das crianas que morrem por sub-nutrio e doenas absolutamente evitveis, idosos que j no conseguem seus remdios e o o sade pblica, condenados a morrer antes do tempo.
Essa matana possui responsveis. Boa parte dos legisladores atuais da chamada “PEC da morte” no podem se eximir da pecha de serem os atuais Herodes do povo brasileiro.

As elites do dinheiro e do privilgio conseguiram voltar. Apoiados por parlamentares corruptos, de costas ao povo e moucos ao clamor das ruas e por uma coligao de foras que envolve juizes justiceiros, o Ministrio Pblico, a Polcia Militar e parte do Judicirio e da mdia corporative e reacionria no sem o respaldo da potncia imperial interessada em nossas riquezas, forjaram a demiso da Presidenta Rousseff. O real motor do golpe o capital financeiro, os bancos e os rentistas (no afetados pelas polticas dos ajustes fiscais).

Com razo denuncia o cientista politico Jess Souza: “O Brasil palco de uma disputa entre dois projetos: o sonho de um pas grande e pujante para a maioria; e a realidade de uma elite da rapina que quer drenar o trabalho de todos e saquear as riquezas do pas para o bolso de meia dzia. A elite do dinheiro manda pelo simples fato de poder "comprar" todas as outras elites”(FSP 16/4/2016).

A tristeza constatar que todo esse processo de expoliao consequncia da velha politca de conciliao dos donos do dinheiro entre si e com os governos, que vem desde o tempo da Colnia e da Independncia. Lula-Dilma no conseguiram ou no souberam superar a arte finria desta minoria dominante que, a pretexto da governabilidade, busca a conciliao entre si e com os governantes, concedendo alguns benefcios ao povo a preo de manter intocada a natureza de seu processo de acumulao de riqueza em altssimos nveis.

O historiador Jos Honrio Rodrigues que estudou a fundo a conciliao de classe sempre de costas ao povo, afirma com razo:”a liderana nacional, em suas sucessivas geraes, foi sempre anti-reformista, elitista e personalista…A arte de furtar nobre e antiga praticada por essas minorias e no pelo povo. O povo no rouba, roubado…O povo cordial, a oligarquia cruel e sem piedade…; o grande sucesso da histria do Brasil o seu povo e grande decepo a sua liderana”(Conciliao e Reforma no Brasil, 1965, pp. 114;119).

Estamos vivendo a repetio desta malfica tradio, da qual jamais nos liberaremos sem o fortalecimento de um anti-poder, vindo do andar de baixo, capaz de derrubar esta clique perversa e instaurar um outro tipo de Estado, com outro tipo de poltica republicana, onde o bem comum se sobrepe ao bem particular e corporativo.

O Natal deste ano um Natal sob o signo de Herodes. No obstante, cremos que a divina Criana o Messias libertador e a Estrela generosa para nos mostrar melhores caminhos.