Se conhecssemos os sonhos do homem branco? - Jornal Cruzeiro do Vale 1k1b2y

Se conhecssemos os sonhos do homem branco? b3k3p

12/11/2014 1n4cz

A crise econmico-financeira que est afligindo grande parte das econonomias mundiais criou a possibilidade de os muito ricos ficarem to ricos como jamais na histria do capitalismo, logicamente custa da desgraa de pases inteiros como a Grcia, a Espanha e outros e de modo geral toda a zona do Euro, talvez com uma pequena exceo, da Alemanha. Ladislau Dowbor ( http://dowbor.org)., professor de economia da PUC-SP resumiu um estudo do famoso Instituto Federal Suio de Pesquisa Tecnolgica (ETH) que por credibilidade concorre com as pesquisas do MIT de Harvard. Neste estudo se mostra como funciona a rede do poder corporativo mundial, constituda por 737 atores principais que controlam os principais fluxos financeiros do mundo, especialmente, ligados aos grandes bancos e outras imensas corporaes multinacionais. Para esses, a atual crise uma incomparvel oportunidade de realizaram o sonho maior do capital: acumular de forma cada vez maior e de maneira concentrada.

O capitalismo realizou agora o seu sonho possivelmente o derradeiro de sua j longa histria. Atingiu o teto extremo. E depois do teto? Ningum sabe. Mas podemos imaginar que a resposta nos vir no de outros modelos de produo e consumo mas da prpria Me Terra, de Gaia, que, finita, no a mais um sonho infinito. Ela est dando claros sinais antecipatrios, que no dizer do prmio Nobel de medicina Christian de Duve (veja o livro Poeira Vital: a vida com imperativo csmico, 1997) so semelhantes queles que antecederam s grandes dizimaes ocorridas na j longa histria da vida na Terra (3,8 milhes de anos). Precisamos estar atentos, pois os eventos extremos que j vivenciamos nos apontam para eventuais catstrofes ecolgico-sociais ainda na nossa gerao.

O pior disso tudo que nem os polticos, nem grande parte da comunidade cientfica e mesma da populao se d conta dessa perigosa realidade. Ela tergiversada ou ocultada, pois demasiadamente anti-sistmica. Obrigar-nos-ia a mudar, coisa que poucos almejam. Bem dizia Antonio Donato Nobre num estudo recentssimo (2014) sobre O futuro climtico da Amaznia: ?A agricultura consciente, se soubesse o que a comunidade cientfica sabe, (as grande secas que viro) estaria na rua, com cartazes, exigindo do governo proteo das florestas e plantando rvores em sua propriedade?.

Falta-nos um sonho maior que galvanize as pessoas para salvar a vida no Planeta e garantir o futuro da espcie humana. Morrem as ideologias. Envelhecem as filosofias. Mas os grandes sonhos permancecem. So eles que nos guiam atravs de novas vises e nos estimulam para gestar novas relaes sociais, para com a natureza e a Me Terra.

Agora entendemos a pertinncia das palavras do cacique pele-vermelha Seattle ao governador Stevens, do Estado de Washington em 1856, quando este forou a venda das terras indgenas aos colonizadores europeus. O cacique no entendia por qu se pretendia comprar a terra. Pode-se comprar ou vender a aragem, o verdor das plantas, a limpidez da gua cristalina e o esplendor das paisagens? Para ele, tudo isso terra e no o solo como meio de produo.

Neste contexto reflete que os peles-vermelhas compreenderiam o o por qu e a civilizao dos brancos ?se conhecessem os sonhos do homem branco, se soubessem quais as esperanas que esse transmite a seus filhos e filhas nas longas noites de inversno, e quais as vises de futuro que oferece para o dia de amanh?.

Qual o sonho dominante de nosso paradigma civilizatrio que colocou o mercado e a mercadoria como o eixo estruturador de toda a vida social? a posse de bens materiais, a acumulao financeira maior possvel e o desfrute mais intenso que pudermos de tudo o que a natureza e a cultura nos podem oferecer at saciedade. o triunfo do materialismo refinado que coopta at o espiritual, feito mercadoria com a enganosa literatura de auto-ajuda, cheia de mil frmulas para sermos felizes,construda com cacos de psicologia, de nova cosmologia, de religio oriental, de mensagens crists e de esoterismo. enganao para criar a iluso da felicidade fcil.

Mesmo assim, por todas as partes surgem grupos portadores de nova reverncia para com a Terra, inauguram comportamentos alternativos, elaboram novos sonhos de um acordo de amizade com a natureza e creem que o caos presente no s catico, mas generativo de um novo paradigma de civilizao, que eu chamaria de civilizao de re-ligao, sintonizada com a lei mais fundamental da vida e do universo, que a panrelacionalidade, a sinergia e a complementariedade.

Ento teramos feito a grande travessia para o realmente humano, amigo da vida e aberto ao Mistrio de todas as coisas. Ou mudamos ou seguiremos um triste caminho sem retorno.

Leonardo Boff, ecotelogo, escritor

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Indianara Schmitt

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