27/10/2014 f1u40
Nestas eleies presidenciais, os brasileiros e brasileiras se confrontaram com uma cena bblica, testemunhada no salmo nmero um: tinha que escolher entre dois caminhos: um que representa o acerto e a felicidade possvel e outro, o desacerto e infelicidade evitvel.
Criaram-se todas as condies para uma tempestade perfeita com distores e difamaes, difundidas na grande imprensa e nas redes sociais, especialmente uma revista que ofendeu gravemente a tica jornalstica, social e pesssoal publicando falsidades para prejudicar a candidata Dilma Rousseff. Atrs dela se albergam as elites mais atrasadas que se empenham antes em defender seus privilgios que universalizar os direitos pessoais e sociais.
Face a estas adversidades, a Presidenta Dilma ao ter ado pelas torturas nos pores dos rgos de represso da ditadura militar, fortaleceu sua identidade, cresceu em determinao e acumulou energias para enfrentar qualquer embate. Mostrou-se como : uma mulher corajosa e valente. Ela transmite confiana, virtude fundamental para um poltico. Mostra inteireza e no tolera malfeitos. Isso gera no eleitor ou eleitora o sentimento de ?sentir firmeza?.
Sua vitria se deve em grande parte militncia que saiu s ruas e organizou grandes manifestaes. O povo mostrou que amadureceu na sua conscincia poltica e soube, biblicamente, escolher o caminho que lhe parecia mais acertado votando em Dilma. Ela saiu vitoriosa com mais de 51% dos votos.
Ele j conhecia os dois caminhos. Um, ensaiado por oito anos, fez crescer economicamente o Brasil mas transferiu a maior parte dos benefcios aos j beneficiados custa do arrocho salarial, do desemprego e da pobreza das grandes maiorias. Fazia polticas ricas para os ricos e pobres para os pobres. O Brasil fez-se um scio menor e subalterno ao grande projeto global, hegemonizado pelos pases opulentos e militaristas. Esse no era o projeto de um pas soberano, ciente de suas riquezas humanas, culturais, ecolgicas e digno de um povo que se orgulha de sua mestiagem e que se enriquece com todas as diferenas.
O povo percorreu tambm o outro caminho, o do acerto e da felicidade posssvel. Neste ele teve centralidade. Um de seus filhos, sobrevivente da grande tribulao, Luiz Incio Lula da Silva, conseguiu com polticas pblicas, voltadas aos humilhados e ofendidos de nossa histria, que uma Argentina inteira fosse includa na sociedade moderna. Dilma Rousseff levou avante, aprofundou e expandiu estas polticas com medidas democratizantes como o Pronatec, o Pro-Uni, as cotas nas universidades para os estudantes vindos da escola pblica e no dos colgios particulares; as cotas para aqueles cujos avs vieram dos pores da escravido assim como todos os programas sociais do Bolsa Famlia, o Luz para Todos, a Minha Casa, minha Vida, o Mais Mdicos entre outros.
A questo de fundo de nosso pas est sendo equacionada: garantir a todos mas principalmente aos pobres o o aos bens da vida, superar a espantosa desigualdade e criar mediante a educao oportunidades aos pequenos para que possam crescer, se desenvolver e se humanizar como cidados ativos.
Esse projeto despertou o senso de soberania do Brasil, projetou-o no cenrio mundial como uma posio independente, cobrando uma nova ordem mundial, na qual a humanidade se descobrisse como humanidade, habitando a mesma Casa Comum.
O desafio para a Presidenta Dilma no s consolidar o que j deu certo e corrigir defeitos mas inaugurar um novo ciclo de exerccio do poder que signifique um salto de qualidade em todas as esferas da vida social. Pouco se conseguir se no houver uma reforma poltica que elimine de vez as bases da corrupo e que permita um avano da democracia representativa com a incorporao da democracia participativa, com conselhos, audincias pblicas, com a consulta aos movimentos sociais e outras instituies da sociedade civil. urgente uma reforma tributria para que tenha mais equidade e ajude a suplantar a abissal desigualdade social. Fundamentalmente a educao e a sade estaro no centro das preocupaes desse novo ciclo. Um povo ignorante e doente no pode dar nunca um salto rumo a um patamar mais alto de vida. A questo do saneamente bsico, da mobilidade urbana (85% de populao vive nas cidades) com transporte minimamente digno, a segurana e o combate criminalidade so imperativos impostos pela sociedade e que a Presidenta se obrigar a atender.
Ela nos debates apresentou um leque signficativo de transformaes a que se props. Pela seridade e sentido de eficcia que sempre mostrou, podemos confiar que acontecero.
H questes que mal foram acenadas nos debates: a importncia da reforma agrria moderna que fixa o campons no campo com todas as vantagens que a cincia propiciou. Importa ainda demarcar e homologar as terras indgenas, muitas ameaadas pelo avano do agro-negcio.
Por ltimo e talvez o maior dos desafios nos vem do campo da ecologia. Severas ameaas pairam sobre o futuro da vida e de nossa civilizao, seja pela mquina de morte j criada que pode eliminar por vrias vezes toda a vida e as consequncias desastrosas do aquecimento global. Se chegar o aquecimento abrupto, como inteiras sociedades cientficas alertam, a vida que conhecemos talvez no possa subsistir e grande parte da humanidade ser letalmente afetada. O Brasil por sua riqueza ecolgica fundamental para o equibrio do planeta crucificado. Um novo governo Dilma no poder obviar esta questo que de vida ou morte para a nossa espcie humana.
Que o Esprito de sabedoria e de cuidado oriente as decises difceis que a Presidenta Dilma Rousseff dever tomar.
Leonardo Boff, telogo e escritor
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