05/02/2018 6b5wu
O presente texto quer ser uma pequena contribuio ao debate sobre o feminino to distorcido pela cultura patriarcal dominante. De sada j afirmamos: o feminino veio primeiro. Vejamos como surgiu no processo da sexognese. Vrias so as etapas.
A vida j existe na terra, h 3,8 bilhes de anos. O anteado comum de todos os viventes foi provavelmente um bactria unicellular sem ncleo que se multiplicava espantosamente por diviso interna. Isso durou cerca de um bilho de anos.
H dois bilhes de anos, surgiu uma clula com membrana e dois ncleos, dentro dos quais se encontravam os cromosomos. Nela se identifica a orgem do sexo. Quando ocorria a troca de ncleos entre duas clulas binucleadas, gerava-se um nico ncleo com os cromosomos em pares. Antes, as clulas se subdividiam, agora se d a troca entre duas diferentes com seus ncleos. A clula se reproduz sexualmente a partir do encontro com outra clula. Revela-se assim a simbiose – composio de diferentes elementos – que junto com a seleo natural representa a fora mais importante da evoluo. Tal fato tem consequncias filosficas: a vida tecida mais de trocas, de cooperao e simbiose do que da luta competitiva pela sobrevncia.
Nos dois primeiros bilhes de anos, nos oceanos de onde irrompeu a vida, no existiam rgos sexuais especficos. Existia uma existncia feminina generalizada que no grande utero dos oceanos, lagos e rios, gerava vidas. Nesse sentido podemos dizer que o princpio feminino primeiro e originrio.
S quando os seres vivos deixaram o mar, lentamente foi surgindo o pnis, algo masculino, que tocando a clula ava a ela parte de seu DNA, onde esto os genes.
Com o aparecimento dos vertebrados h 370 mihes de anos com os rpteis, estes criaram o ovo amnitico cheio de nutrientes e consolidaram a vida em terra firme. Com o aparecimento dos manferos h cerca de 125 milhes de anos j surgiu uma sexualidade definida de macho e fma. A emerge o cuidado, o amor e a proteo da cria. H 70 milhes de anos apareceu o nosso ancestral mamfero que vivia na copa das rvores, nutrindo-se de brotos e de flores. Com o desaparecimento dos dinossauros h 67 mihes de anos, puderam ganhar o cho e se desenvolver chegando aos dias de hoje.
H ainda o sexo gentico-celular humano que apresenta o seguinte quadro: a mulher se caracteriza por 22 pares de cromososmos somticos mais dois cromossomos X (XX). O do homem possui tambm 22 pares, mas com apenas um cromosomo X e outro Y (XY). Da se depreende que o sexo-base feminino (XX) sendo que o masculino (XY) representa uma derivao dele por um nico cromosomo (Y). Portanto, no h um sexo absoluto, apenas um dominante. Em cada um de ns, homens e mulheres, existe “um segundo sexo”.
Ainda com referncia ao sexo genital-gonodal importa reter que nas primeiras semanas, o embrio apresenta-se andrgino, vale dizer, possui ambas as possibilidades sexuais, femininina ou masculina. A partir da oitava semana, se um cromosomo masculino Y penetrar no vulo feminino, mediante o hormnio andrognio a definio sexual ser masculina. Se nada ocorrer, prevalece a base comum, feminina. Em termos do sexo genital-gonodal podemos dizer: o caminho feminino primordial. A partir do feminino se d a diferenciao, o que desautoriza o fantasioso “princpio de Ado”. A rota do masculino uma modificao da matriz feminina, por causa da secreo do androgni pelos testculos.
Por fim existe ainda o sexo hormonal. Todas as glndulas sexuais no homem e na mulher so comandadas pela hipfise, sexualmente neutra e pelo hipotlamo que sexuado. Estas glndulas secretam no homem e na mulher os dois hormnios: o andognio (masculino) e o estrognio (feminino). So responsveis pelas caractersticas secundrias da sexualidade. A predominncia de um ou de outro hormnio, produzir uma configurao e um comportamento com caractersticas femininas ou masculinas. Se no homem houver uma impregnao maior do estrognio, ter alguns traos femininios; o mesmo se d com a mulher com referncia ao andrognio.
Importa ainda dizer que a sexualidade possui uma dimenso ontologica. O ser humano no possui sexo. Ele sexuado em todas as suas dimenses, corporais, mentais e espirituais. At a emergncia da sexualidade o mundo dos mesmos e dos idnticos. Com a sexualidade emerge a diferenciao pela troca entre diferentes. So diferentes para poderem se inter-relacionar e estabelecer laos de convivncia. o que ocorre com a sexualidade humana: cada um, alm da fora institiva que sente em si, sente tambm a necessidade de canalizar e sublimar tal fora. Quer amar e ser amado, no por imposio mas por liberdade. A sexualidade desabrocha no amor, a fora mais ponderosa “que move o cu e as estrelas”(Dante) e tambm nossos coraes. a suprema realizao que o ser humano pode almejar. Mas retenhamos: o feminine vem primeiro e bsico.
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