O bem comum foi enviado ao limbro - Jornal Cruzeiro do Vale 304td

O bem comum foi enviado ao limbro 21q2e

12/02/2015 5262x

As atuais discusses polticas no Brasil em meio a uma ameaadora crise hdrica e energtica se perdem nos interesses particulares de cada partido. H uma tentativa articulada pelos grupos dominantes, por detrs dos quais se escondem grandes corporaes nacionais e multinacionais, a midia corporativa e, seguramente, a atuao do servios de segurana do Imprio norte-americano, de desestabilizar o novo governo de Dilma Rousseff. No se trata apenas de uma feroz critica s polticas oficiais mas h algo mais profundo em ao: a vontade de desmontar e, se possvel, liquidar o PT que representa os intersses das populaes que historicamente sempre foram marginalizadas. Custa muito s elites conservadores aceitarem o novo sujeito histrico ? o povo organizado e sua expresso partidria ? pois se sentem ameaadas em seus privilgios. Como so notoriamente egoistas e nunca pensaram no bem comum, se empenham em tirar da cena essa fora social e poltica que poder mudar irreversivelmente o destino do Brasil.

Estamos esquecendo que a essncia da poltica a busca comum do bem comum. Um dos efeitos mais avassaladaores do capitalismo globalizado e de sua ideologia, o neo-liberalismo, a demolio da noo de bem comum ou de bem-estar social. Sabemos que as sociedades civilizadas se constroem sobre trs pilastras fundamentais: a participao (cidadania), a cooperao societria e respeito aos direitos humanos. Juntas criam o bem comum. Mas este foi enviado ao limbo da preocupao poltica. Em seu lugar, entraram as noes de rentabilidade, de flexibilizao, de adaptao e de competividade. A liberdade do cidado substituida pela liberdade das foras do mercado, o bem comum, pelo bem particular e a cooperao, pela competio.

A participao, a cooperao e os direitos asseguravam a existncia de cada pessoa com dignidade. Negados esses valores, a existncia de cada um no est mais socialmente garantida nem seus direitos afianados. Logo, cada um se sente constrangido o garantir o seu: o seu emprego, o seu salrio, o seu carro, a sua famlia. Impera o individualismo, o maior inimigo da convivncia social. Ningum levado, portanto, a construir algo em comum. A nica coisa em comum que resta, a guerra de todos contra todos em vista da sobrevivncia individual.

Neste contexto, quem vai implementar o bem comum do planeta Terra? Em recente artigo da revista Science (15/01/2015) 18 cientistas elencaram os nove limites planetrios (Planetary Bounderies), quatro dos quais j ultraados (clima, integridade da biosfera, uso da solo, fluxos biogeoqumicos( fsforo e nitrognio). Os outros em avanado grau de eroso. S a ultraagem desses quatro, pode tornar a Terra menos hospitaleira para milhes de pessoas e para a biodiversidade. Que organismo mundial est enfrentando essa situao que detri o bem comum planetrio?

Quem cuidar do interesse geral de mais de sete bilhes de pessoas? O neoliberalismo surdo, cego e mudo a esta questo fundamental como o tem repetido como um ritornello o Papa Francisco. Seria contraditrio suscitar o tema do bem comum, pois o neoliberalismo defende concepes polticas e sociais diretamente opostas ao bem comum. Seu propsito bsico : o mercado tem que ganhar e a sociedade deve perder. Pois o mercado que vai regular e resolver tudo. Se assim por que vamos construir coisas em comum? Deslegitimou-se o bem-estar social.

Ocorre, entretanto, que o crescente empobrecimento mundial resulta das lgicas excludentes e predadoras da atual globalizao competitiva, liberalizadora, desregulamentora e privatizadora. Quanto mais se privatiza mais se legitima o interesse particular em detrimento do interesse geral. Como mostrou em seu livro Thomas Piketty, O Capitalismo no sculo XXI quanto mais se privatiza, mais crescem as desigualdades. o triunfo do killer capitalismo. Quanto de perversidade social e de barbrie aguenta o esprito? A Grcia veio mostrar que no aguenta mais. Recusa-se a aceitar do diktat dos mercados, no caso, hegemonizados pela Alemanha de Merkel e pela Frana de Hollande.

Resumindo: que o bem comum? No plano infra-estrutural o o justo de todos alimentao, sade, moradia, energia, segurana e cultura. No plano humanstico o reconhecimento, o respeito e a convivncia pacfica. Pelo fato de sob a globalizao competitiva foi desmantelado, o bem comum deve agora ser reconstrudo. Para isso, importa dar hegemonia cooperao e no competio. Sem essa mudana, dificilmente se manter a comunidade humana unida e com um futuro bom.

Ora, essa reconstruo constitui o ncleo do projeto poltico do PT e de seus afins ideolgicos. Entrou pela porta certa: Fome Zero depois transformada em vrias polticas pblicas de cunho popular. Tentou colocar um fundamento seguro: a repactuao social a partir dos valores da cooperao e a boa-vontade de todos. Mas o efeito foi fraco, dada a nossa tradio individualista a patrimonialista.

Mas no fundo vigora esta convico humanstica de base: no h futuro a longo prazo para uma sociedade fundada sobre a falta de justia, de igualdade, de fraternidade, de respeito aos direitos bsicos, de cuidado pelos bens naturais e de cooperao. Ela nega o anseio mais originrio do ser humano desde que emergiu na evoluo, milhes de anos atrs. Quer queiramos ou no, mesmo itindo erros e corrupo, o melhor do PT articulou e articula esse anseio ancestral. dai que pode se resgatar e renovar e alimentar sua fora convocatria. Se no for o PT sero outros atores em outros tempos que o faro.

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Indianara Schmitt

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