No Mxico o Papa pede perdo aos povos originrios - Jornal Cruzeiro do Vale 2h49

No Mxico o Papa pede perdo aos povos originrios 5cr3o

25/02/2016 13282s

Foi memorvel a data de 15 de fevereiro de 2016 quando o Papa Francisco esteve na cidade colonial San Cristbal de de las Casas, capital do estado mais pobre do Mxico, Chiapas, l onde em 1994 irrompeu a rebelio dos zapatistas que perdurou at 2005. Encontrou-se com os povos originrios, maias, quichs e outros. Diante de cem mil pessoas celebrou missa utilizando as lnguas deles.

Foi uma visita de dupla reparao. Primeiro aos povos originrios, pedindo perdo pelos sculos de dominao e de de sofrimento:"Muitas vezes, de maneira sistemtica e estrutural, os vossos povos foram alvo de incompreenso e excludos da sociedade. Alguns consideraram inferiores seus valores, cultura e tradies, (...) e isso muito triste. O que nos faria bem, a todos ns, seria um exame de conscincia e aprender a pedir perdo”.

Ecoam ainda aos nossos ouvidos as palavras comovedoras do profeta maia Chilam Balam de Chumayel:”Ai entristeamo-nos porque chegaram...vieram fazer nossas flores murchar para que somente a sua flor vivesse; entre ns se introduziu a tristeza, veio o cristianismo; esse foi o princpio de nossa misria, o princpio de nossa escravido”.

O impacto da invaso dos espanhis foi to violenta que dos 22 milhes de astecas existentes em 1519 quando Hernn Corts penetrou no Mxico, s restou em 1600 apenas um milho de pessoas. Muitos morreram em guerras e a grande maioria por doenas dos europeus contra as quais no tinham imunidade. Foi um dos maiores genocdios da histria humana. Os colonizadores sujeitaram os corpos, os missionrios conquistaram as almas. Na linguagem de um indgena do sculo XVI, os espanhis, todos cristos, “foram o anti-cristo na Terra, o tigre dos povos o sugador do ndio”.

Agora nos vem um Papa da Amrica Latina que no escamoteia, como sempre se fez pela Igreja oficial e pela Espanha, esta devastao de inteiras naes. Reconhece os pecados e abusos e pede perdo.

Fez uma segunda reparao: o resgate do bispo Dom Samuel Ruiz Garca, incompreendido pela hierarquia mexicana, em grande parte conservadora e literalmente perseguido pelo Vaticano por introduzir diconos indgenas e por colocar as bases de uma “Igreja indgena” que combinava elementos de Catolicismo e da cultura autctone que inclui ramos de pinheiros, ovos e referncias a Deus como Pai e como Me. O Papa reconheceu as trs lnguas principais como lnguas litrgicas: chol, tzotzil e tzeltal. Deteve-se diante do tmulo de Dom Samuel Ruiz e rezou longamente.

Mais ainda. O Papa reconhece a grande contribuio que podem dar ao mundo pela forma como tratam a Pacha Mama, com respeito, venerao e harmonia.

Retoma o discurso da encclica sobre o “Cuidado da Casa Comum” e diz enfaticamente: “No podemos permanecer indiferentes perante uma das maiores crises ambientais da histria. Nisto, vs tendes muito a ensinar-nos. Os vossos povos, como reconheceram os bispos da Amrica Latina, sabem relacionar-se harmoniosamente com a natureza, que respeitam como fonte de alimento, casa comum e altar do compartilhar humano”.

Acrescenta ainda: “Entre os pobres mais abandonados e maltratados est o nosso oprimido e devastado planeta. No podemos fazer-nos surdos face a uma das maiores crises ambientais da histria”. E novamente convoca esses povos originrios a serem referncia viva de um outro modo de habitar a Casa Comum, de produzir, de distribuir e de consumir em consonncia com os ritmos da natureza e na equidade na participao dos bens e servios naturais.

De minhas andanas pelos vrios pases latino-americanos constato dois fenmenos visveis: o resgate biolgico dos povos originrios. Eles esto crescendo em nmero e refazendo sua populao, outrora quase exterminada. E o segundo a reconquista de sua cultura com suas religies com e sua sabedoria ancestral, transmitida pelas “abuelas e abuelos” (as avs e os avs), de gerao em gerao. uma experincia inolvidvel participar de suas celebraes dirigidas pelos seus sacerdotes, sacerdotisas e sbios. A se sente uma profunda sacralidade e comunho com todos os elementos do universo, da natureza e da Me Terra.

Eles no so filhos da modernidade secularizada. Guardam a sagrada venerao por todas as coisas. Sentem-se filhos e filhas das estrelas e em profunda comunho com os ancestrais. Estes so apenas invisveis mas esto presentes, acompanhando o povo com seus conselhos transmitidos pelos ancios e pelos sbios.

Devemos revistar estas culturas ancestrais. Nela esto vivos princpios e valores que nos podero inspirar formas de superar a nossa crise de civilizao e garantir o nosso futuro.

Comentrios 193p6c

Carlos Esk
12/04/2016 13:20
Parabns pelas sbias palavras ontem no Rio de Janeiro.

Deixe seu comentrio n4n6x


Seu e-mail no ser divulgado.

Seu telefone no ser divulgado.

Outras colunas 6i1c

Indianara Schmitt

Indianara Schmitt

Em Sociedade