Ensino religioso, ensino das religies e iniciao vida do esprito? - Jornal Cruzeiro do Vale 5z631q

Ensino religioso, ensino das religies e iniciao vida do esprito? 3y6y4m

02/10/2017 4f316v

Corre no STF a discusso se nas escolas, pode ou no haver ensino religioso. O termo “ensino religioso” leva a equvocos pois contm uma conotao confessional. Num Estado laico como o brasileiro, que acolhe e respeita todas as religies sem aderir a nenhumadelas, o correto seria dizer “ensino das religies”. Pertence cultura geral, que os estudantes tenham noes bsicas das religies praticadas na humanidade. Tal estudo possui o mesmo direito de cidadania que o da histria universal ou das cincias e das artes. O termo correto seria, portanto, o “ensino das religies”.

Entretanto, o mais importante seria iniciar os estudantes na espiritualidade como entendida hoje pelos estudiosos. No se trata de uma derivao da religio, o que pode ser, mas esta no possui o monoplio da espiritualidade. A espiritualidade um dado antropolgico de base como a inteligncia, a vontade e a libido.

O ser humano alm de possuir uma exterioridade (corpo) e uma interioridade (psiqu), possui tambm uma profundidade (esprito). O esprito aquele momento da conscincia em que cada um se capta a si mesmo como parte de um todo e se pergunta pelo sentido da vida e de seu lugar no conjunto dos seres.

Talvez melhor que um fisofo, um escritor nos possa esclarecer o que seja o esprito e a vida do esprito. Antoine de Saint Exupry, autor do Pequeno Prncipe, deixou uma carta pstuma de 1943 e somente publicada em 1956. Intitulava-se “Carta ao General X”. Ai escreveu:”No h seno um problema, somente um: redescobrir que h uma vida do esprito que ainda mais alta que a vida da inteligncia, a nica que pode satisfazer o ser humano”(Dare un senso a la vita, Macondo Libri 2015 p. 31)

Para ele, a vida do esprito ou a espiritualidade feita de amor, de solidariedade, de compaixo, de companheirismo e de sentido potico da vida. Se esta vida do esprito fosse cultivada, no haveria o absurdo dos milhes de mortos na segunda guerra mundial. o que mais faz falta hoje no mundo.Pelo fato de a vida do esprito vir coberta por um manto de cinzas de egoismo, indiferena,cinismo e dio que as sociedades se tornaram desumanas. Saint Exupry chega a dizer:”temos necessidade de um deus”(p.36).

Esse Deus no vem de fora. Ele aquela Energia ponderosa e amorosa que os cosmlogos chamam de Energia deFundo do Universo, inominvel e misteriosa da qual sairam todos os seres e so sustentados, a cada momento, por ela. E ns tambm. Cosmlogos como Brian Swimme e Freeman Dyson chamam de Abismo Alimentador de Tudo ou de Fonte Originria de todos os Seres. Deus deve ser pensado nesta linha.

prprio da vida do esprito poder abrir-se a essa Realidade, deixar-se tomar por ela e entrar em dilogo com ela. O resultado ter uma experincia de transcendncia, sentindo-se mais sensvel e humano.

H uma base biolgica para a vida do esprito. Neurocientistas, a partir dos anos 90 do sculoado, constataram que sempre que o ser humano aborda temas ligados a um sentido profundo da vida e ao Sagrado. verifica-se uma grande acelerao dos neurnios dos lobos temporais. Chamaram a isso “o ponto Deus no crebro”. Assim como temos rgos exteriores como os olhos, os ouvidos e o tato, temos tambm um rgo interior, que nossa vantagem evolutiva, pela qual captamos essa Realidade misteriosa que nos circunda e tudo sustenta.

Deter-se sobre esta Realidade e entrar em dilogo com ela, nos torna mais humanos, menos violentos e agressivos. Danah Zohar, fsica quntica e seu marido psiquiatra Ian Marshall, escreveram um convincente livro sobre o “ponto Deus no crebro” denominando-o de “inteligncia espiritual”(Record, Rio 2000). Assim somos dotados de trs tipos de inteligncia: a intelectual, a emocial e a espiritual. Cumpre articular as trs para sermos mais plenamente humanos.

Estimo que as escolas alm de fornecer um ensino das religies, ganhariam enormemente se iniciassem os estudantes na vida do esprito. Quem estaria apto para orientar esta prtica? Professores de psicologia, de pedagogia, de filosofia e de histria. A aulapoderia ser dividida em duas partes: nos primeiros vinte minutos pequenos grupos discutiriam um tpico de algum mestre do esprito de distintas procedncias. Procurariam internalizar tais contedos. Nos outros vinte minutos seria colocar em comum o que refletiram e abrir um debate aberto.

Como alternativa, pode-se tambm reservar um tempo para cada estudante recolher-se, auscultar sua profunidade e ver o que da sai: bons e maus sentimentos, conhecendo-se a si mesmo e propondo-se a fortalecer os bons e colocar os maus sob controle. Assim sentiria a vida do esprito, consciente e pessoal.

Temos como matar a fome de po. Precisamos matar a fome de vida espiritual, que se nota por todos os lados. Ela “seria a nica a satisfazer o ser humano”.

Leonardo Boff ex-professor de filosofia da religio da UERJ e escreveu: Espiritualidade:caminho de realizao, Mar de Ideias, Rio 2016 e Meditao da Luz: o caminho dasimplicidade, Vozes 2009. 645553

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Indianara Schmitt

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