Discutir o aborto por amor vida - Jornal Cruzeiro do Vale 3i106w

Discutir o aborto por amor vida u4lm

25/09/2014 5c6y2c

Custa-me crer que haja pessoas que defendam o aborto pelo aborto. Ele implica eliminar uma vida ou interferir num processo vital que culmina com a emergncia da vida humana. Eu pessoalmente sou contra o aborto pois amo a vida em cada uma de suas fases e em todas as suas formas.

Mas esta afirmao no me torna cego para uma realidade macabra que no pode ser ignorada e que desafia o bom senso e os poderes pblicos. Por ano fazem-se no Brasil cerca de 800 mil abortos clandetinos. A cada dois dias morre uma mulher vtima de um aborto clandestino mal assistido.

Essa realidade deve ser enfrentada no com a polcia mas com uma sade pblica responsvel e com senso de realismo. Considero farisaica a atitude daqueles que de forma intransigente defendem a vida embrionria e no adotam a mesma atitude face s milhares de crianas nascidas e lanadas na misria, sem comida e sem carinho, perambulando pelas ruas de nossas cidades. A vida deve ser amada em todas as suas formas e idadees e no apenas em seu primeiro alvorecer noseio da me. Cabe ao Estado e toda a sociedade criar as condies para que as mes no precisem abortar.

Eu mesmo assisti, nos degraus dacatedral de Fortaleza, uma me famlica, pedindo esmola e amamentando o filho com o sangue de seu prprio seio. Era a figura do pelicano. Perplexo e tomado de compaixo a levei at a casa do Cardeal Dom Aloisio Lorscheider onde lhedemos toda a assistncia possvel.

Mesmo assim ocorrem abortos., sempre dolorosos e que afetam profundamente a psiqu da me. Narro o que escreveu um eminente psicanalista da escola junguiana de So Paulo, Lon Bonaventure, na introduo que fez a um livro desafiador e instigante e no livre de questionamento: Aborto: perda e renovao: um paradoxo na busca da identidade feminina (Paulus 2006) de Eva Pattis, uma psicanalista infantil de origem suia, reconhecida em seu meio.

Conta Lon Bonaventure, com sutileza de um fino psicanalista para quem a espiritualidade constitui uma fonte de integrao e de cura de feridas da alma.

Uma senhora procurou um sacerdote e lhe confessou que havia outrora praticado um aborto. Depois de ouvir sua confisso o sacerdote, com profundo senso humano lhe perguntou: ?que nome havia dado ao seu filho?? A mulher, perplexa, ficou calada por longo tempo.

Ento disse o sacerdote:?vamos dar-lhe um nome. E se a senhora concordar vamos tambm batiz-lo?.

A senhora anuu com a cabea. E simbolicamene assim o fizeram. Depois o sacerdote falou do mistrio da vida humana. Disse: ?h vidas que vem a esta Terra por 10, 50 e at 100 anos; outras jamais vero a luz do sol. No calendrio litrgico da Igreja h a festa dos Santos Inocentes, no dia 28 de dezembro, aqueles que Herodes mandou matar no momento em que a Divina Criana veio ao mundo. Que esse dia seja tambm o dia de aniversrio de seu filho?.

?Na tradio crist? continuou o sacerdote, ?os filhos eram sempre vistos como um presente de Deus e uma beno para a vida. No ado nossos pais iam Igreja oferecer seus filhos a Deus. Nunca tardepara voc tambm oferecer seu filho a Deus?.

O sacerdote terminou sua fala com as seguintes palavras consoladoras:?Como ser humano no posso julg-la. Mas se voc pecou contra a vida, o Deus da vida pode reconcili-la com a vida e com Ele. V em paz e viva?.

O Papa Francisco sempre recomenda misericrdia, compreenso e ternura na relao dos sacerdotes para com os fiis. Esse sacerdote viveu avant la lettre esses valores profundamente humanos e que pertencem prtica doJesus histrico. Que eles possam inspirar a outros sacerdotes a terem a mesma humanidade.


Leonardo Boff, telogo e escritor

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Indianara Schmitt

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