Corrupo: sua natureza e malefcios - Jornal Cruzeiro do Vale 7186u

Corrupo: sua natureza e malefcios 3m5e2l

27/11/2014 p2g54

Pelas mdias sociais fui atacado ferozmente por ter apoiado o projeto poltico do PT e da Presidenta Dilma Rousseff, sempre com o mesmo argumento: por que no reconhece e escreve contra a corrupo? Escrevi vrias vezes neste jornal (JBonline).Reo algumas ideias como resposta.

Segundo a Transparncia Internacional, o Brasil comparece como um dos pases mais corruptos do mundo. Sobre 91 analisados, ocupa o 69 lugar. Aqui ela histrica, foi naturalizada, considerada com um dado natural. atacada s posteriormente quando j ocorreu e goza de impunidade.

S este dado denuncia a gravidade do crime contra a sociedade que a corrupo representa. Todos os dias, mais e mais fatos so denunciados como agora com a corrupo multidudinria e bilionria na Petrobrs, envolvendo dirigentes, partidos e grandes empreiteiras. Como compreender este perverso processo criminoso?

Comecemos com a palavra corrupo. Ela tem origem na teologia. Antes de se falar em pecado original, a tradio crist dizia que o ser humanovive numa situao de corrupo. Santo Agostinho explica a etimologia: corrupo ter um corao (cor) rompido (ruptus) e pervertido. Cita o Gnesis: ?a tendncia do corao desviante desde a mais tenra idade?(8,21). O filsofo Kant fazia a mesma constatao ao dizer:?somos um lenho torto do qual no se podem tirar tbuas retas?. Em outras palavras: h uma fora em ns que nos incita ao desvio e a corrupo um deles.

Como se explica a corrupo no Brasil? Identifico trs razes bsicas entreoutras: a histrica, a poltica e a cultural.

A histrica: somos herdeiros de uma perversa herana colonial e escravocrata que marcou nossos hbitos. A colonizao e a escravatura so instituies objetivamente violentas e injustas. Ento as pessoas para sobreviverem e guardarem a mnima liberdade eram levadas a corromper. Quer dizer: subornar, conseguir favores mediante trocas, peculato (favorecimentoilcito com dinheiro pblico) ou nepotismo. Essa prtica deu origem ao jeitinho brasileiro, uma forma de navegao dentro de uma sociedade desigual.

A poltica: a base da corrupo poltica reside no patrimonialismo e no capitalismo sem regras. No patrimonialismo no se distingue a esfera pblica da privada. Os que esto no poder tratam a coisa pblica como se fosse sua e organizaram o Estado com estruturas e leis que servissem a seus interesses sem pensar no bem comum. H um neopatrimonialismo na atual poltica que d vantagens (concesses, mdios de comunicao) a apaniguados polticos.

Devemos dizer que o capitalismo aqui e no mundo em sua lgica, corrupto, embora aceito socialmente. Ele simplesmente impe a dominao do capital sobre o trabalho, criando riqueza com a explorao do trabalhador e com a devastao da natureza. Gera desigualdades sociais que, eticamente, so injustias, o que origina permanentes conflitos de classe. Piketti tem razo. A democracia pretendendo ser representativa de todos, na verdade, representa os interesses dos grupos dominantes e no os gerais da nao. Esta situao configura umacorrupo j estruturada e faz com que aes corruptas campeiem livre e impunemente.

Cultural: A cultura dita regras socialmente reconhecidas. Roberto Pompeu de Toledo escreveu em 1994 na Revista Veja: ?Hoje sabemos que a corrupo faz parte de nosso sistema de poder tanto quanto o arroz e o feijo de nossas refeies?. Os corruptos so vistos como espertos e no como criminosos que de fato so. Via de regra podemos dizer: quanto mais desigual e injusta uma sociedade, em especial, um Estado, mais se cria um caldo cultural que permite e tolera a corrupo.

Especialmente nos portadores de poder se manifesta a tendncia corrupo. Bem dizia o catlico Lord Acton (1843-1902): ?o poder tem a tendncia a se corromper e o absoluto poder corrompe absolutamente?. E acrescentava:?meu dogma a geral maldade dos homens portadores de autoridade; so os que mais se corrompem?.

Por que isso? Hobbes no seu Leviat (1651) nos acena para uma resposta plausvel: ?a razo disso reside no fato de que no se pode garantir o poder seno buscando ainda mais poder?. Lamentavelmente foi o que ocorreu com setores do PT (no com todo o partido) e de seus aliados. Levantaram a bandeira da tica e das transformaes sociais. Mas ao invs de se apoiar no poder da sociedade civil e dos movimentos e criar uma nova hegemonia, preferiu o caminho curto das alianas e dos acordos com o corrupto poder dominante. Garantiu a governabilidade a preo de mercantilizar as relaes polticas e abandonar a bandeira da tica. Um sonho de geraes foi frustrado. Oxal possa ainda ser resgatado.

Como combater a corrupo? Pela transparncia total, pelo aumento dos auditores confiveis que atacam antecipadamente a corrupo. Como nos informa o World Economic Forum, a Dinamarca e a Holanda possuem 100 auditores por 100.000 habitantes; o Brasil apenas, 12.800 quando precisaramos pelo menos de 160.000. E lutar para uma democracia mais participativa que se faz vigilante e que cobra inteireza tica de seus representantes.

Leonardo Boff, telogo e escritor

Comentrios 193p6c

Deixe seu comentrio n4n6x


Seu e-mail no ser divulgado.

Seu telefone no ser divulgado.

Outras colunas 6i1c

Indianara Schmitt

Indianara Schmitt

Em Sociedade