Ainda h lugar para a esperana e a auto-estima - Jornal Cruzeiro do Vale 2c2z6j

Ainda h lugar para a esperana e a auto-estima 5f5p3k

08/01/2015 485d5o

A inaugurao do segundo mandato da Presidenta Dilma e ouvindo discursos de alguns ministros, permitiu a muitos cidados a voltar a ter esperana contra a onda de pessimismo induzido durante a campanha eleitoral. Refiro-me aqui aos discursos da Presidenta Rousseff, do ministro do MDA, Patrus Ananias, do ex-secretrio da presidncia, o ministro Gilberto Carvalho e de seu sucessor, o ministro Miguel Rossetto.

Ai apareceram os ideais originrios da revoluo poltica, democrtica e pacfica que o PT trouxe histria brasilera. Digam o que quiserem, o fato que o sujeito do poder poltico e de Estado j no mais a tradicional classe dominante, aqueles que detinham os meios do poder, do ter, do saber e do comunicar. Por mais que inventassem estratgias de manuteno de seus status, usando meios dos mais torpes como a edio da obscena revista VEJA, na vspera das eleies, no conseguiram convencer os eleitores. Eles inturam que o projeto poltico hegemonizado pelo PT lhes era mais adequado para o seu bem estar e para continuar a inveno de outro tipo de Brasil.

Agora, aps de decnios de maturao, vindo dos fundos da escravido, das grandes periferias empobrecidas, do mundo dos ignorados, com a colaboraco de aliados de outras classes sociais, se formou um novo poder de cunho popular e republicano que permitiu conquistar democraticamente a direo do Estado.

J me antecipo aos crticos que falam e tresfalam do mensalo e da corrupo de alguns altos escales da Petrobrs. Importa reconhecer seus erros e crimes, investig-los e exigir sua condenao como continuamente o diz a Presidenta Dilma e os melhores lderes do PT. Mas no ser esse nfimo nmero de corruptos que poder anular o projeto transformador de mais de um milho de filiados ao PT.

H os que querem se engessar na crtica desse desvio como quem insistisse em permanecer ainda na fase anal de seu processo de individuao, como diria Freud. Nunca h somente sombras. Sempre h tambm luzes. Elas coexistem dialeticamente. Mas enfatizar apenas as sombras cair no moralismo imobilizador como se s com a moral se pudesse resolver todos os problemas de um pas. H uma indignao farisaica porque se basta a si mesma e quando apresenta uma alternativa, esta pior do que aquela que criticam.

O que vimos e ouvimos dos ministros referidos foi a luz que precisava novamente ser testemunhada. Duvido, sinceramente, que algum possa apontar qualquer deslize de conduta da Presidenta, do ministro Patrus Ananias, do ministro Miguel Rossetto e de Gilberto Carvalho entre outros. Este ltimo ficou no palcio do Planalto por doze anos. Ao entrar na sala de trabalho, concentrou-se e pediu a Deus, em quem cr com uma f feita experincia vital: ?Meu Deus, peo-Vos apenas duas coisas: que nunca traia minha opo pelos pobres e que jamais seja refm dos ritos do poder?.

Quem o conhece sabe de sua fidelidade essa opo, de sua transparncia e simplicidade, aliada coragem de enfrentar os poderosos e descontruir distores de alguns grandes meios de comunicao, pois jamais aceitam que, um dia, foram apeados do poder. Esses perdedores mas poderosos no temem um povo mantido na ignorncia. Mas tm pavor de um povo que pensa e que sabe discernir onde esto os faras atuais que, por sculos, os mantiveram no cativeiro do trabalho explorado e desumanizador.

A presidenta Dilma revela um entranhado amor aos pobres e aos invisveis e de uma retido tica inatacvel. Bastam estas palavras de sua fala para mostrar a linha social que traou:?Nenhum direito a menos, nenhum o atrs?.

Ao ouvir os ministros Carvalho, Rossetto e Ananias parecia-me escutar os sonhos originrios que deram origem a essa verdadeira revoluo de cunho popular que ocorreu h doze anos: a de conferir centralidade aos pobres, fazer polticas sociais para os que nunca puderam sair da fome, que no tinham o casa, terra, sade, luz eltrica e ao crdito, sem falar do ensino tcnico e superior que foi amplamente possibilitado queles desprovidos de meios.

Dizia a mim para mim mesmo: aqui est o que propnhamos desde os anos 60 do sculo ado nas bases, nos lixes (trabalhei 15 anos no de Petrpolis), aos sem-terra, aos sem-teto, aos afrodescendentes, aos indgenas e s mulheres. A estava a verdadeira prtica de libertao, para muitos derivada da f no Cristo libertador e que deu origem, como momento segundo, teologia da libertao.

Se a oposio diz que foi derrotada por uma quadrilha de ladres, devemos resgatar o sentido de quadrilha: somos, como dizia o ex-ministro Carvalho, da quadrilha do bem, dos que se colocam do lado dos pobres porque no somos ladres mas zelosos servidores pblicos.

No obstante os muitos percalos, as palavras deles nos confirmaram que o rumo no fora perdido. Os mesmos sonhos que nos levaram a trabalhar e a aprender com o povo a era reafirmado. Muitos sofreram, participando um pouco de sua paixo que tem estaes como aquelas do Filho do Homem.

Somos por um democracia social sem fim, representativa e participativa, cujo centro a vida de todos e da Me Terra sofrida e ferida. A Presidenta e esses ministros nos suscitaram a esperana de que ainda possvel dar forma poltica a esse sonho e nos trouxeram a alegria de que eles nos do o exemplo e vo frente animando os desalentados.

Leonardo Boff, telogo, filsofo e escritor

Comentrios 193p6c

JOO TEIXEIRA DO ROSARIO
14/01/2015 17:26
Arribou-se o animo esta palavra de Leonardo Boffl Precisamos de quem nos soerga e no de quem nos desalente. Espero que suas palavras sejam profticas

Deixe seu comentrio n4n6x


Seu e-mail no ser divulgado.

Seu telefone no ser divulgado.

Outras colunas 6i1c

Indianara Schmitt

Indianara Schmitt

Em Sociedade