Adoecemos a Terra e a Terra nos adoece. - Jornal Cruzeiro do Vale 2v2i4w

Adoecemos a Terra e a Terra nos adoece. 1b3dx

23/10/2017 5h4y2i

De uma ou de outra forma, todos nos sentimos doentes fsica, psquica e espiritualmente. H muito sofrimento, desamparo, tristeza e decepo que afetam grande parte da humanidade. J o dissemos: da recesso econmica amos depresso psicolgica. A causa principal deriva da intrnseca relao existente entre o ser humano e a Terra viva. Entre ambos vigora um envolvimento recproco.

Nossa presena na Terra agressiva, movemos uma guerra total Gaia, atacando-a em todas as frentes. A consequncia direta que a Terra fica doente. Ela o mostra pela febre (aquecimento global), que no uma doena, mas aponta para uma doena: sua incapacidade de continuar nos oferecer tudo o que precisamos. A partir de 2 de setembro de 2017 ocorreu a Sobrecarga da Terra, vale dizer, as reservas da Terra chegaram ao fundo do poo. Entramos no vermelho. Para termos o necessrio e, pior, para manternos o consumo sunturio e o desperdcio dos pases ricos, devemos arrancar fora os bens e servios naturais para atender as demandas. At quando a Terra aguenta? A consequncia ser que teremos menos gua, menos nutrientes, menos safras e os demais itens indispensveis para a vida.

Ns, que consoante a nova cosmologia, formamos uma grande unidade, uma verdadeira entidade nica com a Terra, participamos da doena da Terra. Pela agresso aos ecossistemas e pelo consumismo, pela falta de cuidado da vida e da biodiversidade adoecemos a Terra.

Isaac Asimov, cientista russo, famoso por seus livros de divulgao cientfica, escreveu um artigo a pedido da revista New York Times, (do dia 9 de outubro de 1982) por ocasio da celebrao dos 25 anos do lanamento do Sputinik que inaugurou a era espacial, sobre o legado deste quarto de sculo espacial. O primeiro legado, disse ele, a percepo de que, na perspectiva das naves espaciais, a Terra e a humanidade formam uma nica entidade, vale dizer, um nico ser, complexo, diverso, contraditrio e dotado de grande dinamismo, chamado pelo conhecido cientista James Lovelock, de Gaia. Somos aquela poro da Terra que sente, pensa,ama e cuida.

O segundo legado, consoante Asimov, a irrupo da conscincia planetria: Terra e Humanidade possuem um destino comum. O que se a num, se a tambm no outro. Adoece a Terra, adoece juntamente o ser humano; adoece o ser humano, adoece tambm a Terra. Estamos unidos pelo bem e pelo mal.

Mas tambm ocorre o inverso: sempre que nos mostramos mais saudveis, cuidando melhor de tudo, recuperando a vitalidade dos ecossistemas, melhorando nossos alimentos orgnicos, despoluindo o ar, preservando as guas e as florestas sinal que ns estamos revitalizando a nossa Casa Comum.

Segundo Ilya Prigogine, cientista russo-belga, prmio Nobel em qumica (1977), a Terra viva desenvolveu esturutras dissipativas, isto , estruturas que dissipam a entropia (perda de energia). Elas metabolizam a desordem e o caos (dejetos) do meio ambiente de sorte que surgem novas ordens e estruturas complexas que se auto-organizam, fugindo entropia e positivamente, produzindo sintropia (acumalao de energia: Order out of Chaos, 1984).

Assim, por exemplo, os ftons do sol so para ele, inteis, energia que escapa ao queimar hidrognio do qual vive. Esses ftons que so desordem (rejeito), servem de alimento para a Terra, principalmente para as plantas quando estas processam a fotosntese. Pela fotosntese, as plantas, sob a luz solar, decompem o dixido de carbono, alimento para elas e liberam o oxignio, necessrio para a vida animal e humana.

O que desordem para um serve de ordem para outro. atravs de um equilbrio precrio entre ordem e desordem (caos: Dupuy, Ordres et Dsordres, 1982) que a vida se mantem (Ehrlich, O mecanismo da natureza, 1993). A desordem obriga a criar novas formas de ordem, mais altas e complexas com menos dissipao de energia. A partir desta lgica, o universo caminha para formas cada vez mais complexas de vida e assim para uma reduo da entropia (desgaste de energia).

A nvel humano e espiritual, se originam formas de relao e de vida nas quais predomina a sintropia (economia de energia) sobre a entropia (desgaste de energia). A solidariedade, o amor, o pensamento, a comunicao so energias fortssimas com escasso nvel de entropia e alto nvel de sintropia. Nesta perspectiva temos pela frente no a morte trmica, mas a transfigurao do processo cosmognico se revelando em ordens supremamente ordenadas, criativas e vitais.

Quanto mais nossas relaes para com a natureza forem amigveis e entre ns, cooperativas, mais a Terra se vitaliza. A Terra saudvel nos faz tambm saudveis.

Leonardo Boff articulista do JB on line, ecotelogo, filosofo e escrevu Opo Terra: a soluo da Terra no cai do cu, Record 2009. 1ou25

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Indianara Schmitt

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