A ?democracia? dos sem-vergonha - Jornal Cruzeiro do Vale 684w1a

A ?democracia? dos sem-vergonha e2g2q

03/08/2017 6621c

difcil ficar calado aps ter assistido funesta e desavergonhada sesso da Cmara dos Deputados que votou contra a issibilidade de um processo pelo STF contra o Presidente Temer por crime de corrupo iva.

O que a sesso mostrou foi a real natureza de nossa democracia que se nega a si mesma. Se a medirmos pelos predicados mnimos de toda a democracia que o respeito soberania popular, a observncia dos direitos fundamentais do cidado, a busca de uma equidade mnima na socidade e o incentivo participao, o bem comum, alm de uma tica pblica reconhecvel, ento ela comparece como uma farsa e como uma negao de si mesma.

Nem sequer uma democracia de baixssima intensidade. Ela se revelou, desta vez, com nobres excees, como um covil de denunciados por crimes, de corruptos e de ladres de beira de estrada, assaltando os pobres nqueis dos cidados.
Como iriam votar a favor da issibilidade de um julgamento de um Presidente pelo Supremo Tribunal Federal se cerca de 40% de atuais deputados respondem a vrios tipos de processos na Corte Suprema? Vigora sempre um concluio secreto entre os criminosos ou acusados como tais, no estilo das “famgilias” da mfia.

Nunca em minha j longa e cansada existncia ouvi que algum candidato para financiar sua campanha vendeu seu stio ou se defez de algum bem, mas sempre recorreu a empresrios e a outros endinheirados, para financiar sua milhionria eleio. O caixa 2 se naturalizou e as propinas fabulosas foram crescendo de campanha em campanha na medida que aumentavam as trocas de benefcios.

Desta vez, o palcio do Planalto se transformou no covil-mor do grande Ali-Bab que a cu aberto distribua benesses, prometia subsidios aos milhes ou mesmo oferecia outros benefcios para comprar votos a seu favor. S esse fato mereceria uma investigao de corrupo aberta e escandalosa aos olhos dos que guardam um mnimo de tica e de decncia, especialmente de gente do povo que ficou profundamente estarrecida e envergonhada.

Efetivamente nenhum brasileiro merecia tamanha humilhao a ponto de tantos sentirem vergonha de ser brasileiros.
Os parlamentares, includos os senadores, representam antes os interesses corporativos dos que financiaram suas campanhas do que os cidados que os elegeram.

J temos tido a distncia temporal suficiente para podermos perceber com clareza o sentido do golpe parlamentar dado com a cumpliciade de parte do judicirio e do massivo apoio da mdia empresarial: desmontar os avanos sociais em favor da populao mais pobre que sempre foi, desde a Colnia, no dizer do maior historiador mulato Capistrano de Abreu, “castrada e recastrada, sangrada e dessangrada”. E tambm alinhar o Brasil lgica imperial dos USA no lugar de uma poltica externa "ativa e altiva”.

As classes oligrquicas (Jess Souza, ex-presidente exonerado do IPEA pelo atual Presidente) nos d o nmero exato:71.440 de supermilhonrios, cuja renda mensal, geralmente pela financeirizao da economia, alcana 600 mil reais por ms, nunca aceitarem que algum vindo do andar de baixo e representante dos sobreviventes da histrica tribulao dos filhos e filhas da pobreza, chegasse a ocupar o centro do poder. Ficaram assustadas com a presena deles nos aeroportos e nos shoppingscenters, lugares de sua exclusividade. Deviam ser devolvidos ao lugar de onde nunca deveriam ter saido: a periferia e a favela. No apenas os querem distantes de seus espaos. Vo mais longe: odeiam-os, humilham-nos e difundem este desumano sentimento por todos os meios. No povo que odeia, confirma-o Jess Souza, mas esses endinheirados que os exploram e com tristeza e por obrigao legal lhes pagam os miserveis salarios. Por que pagar, sem sempre trabalharam de graa como antigamente?

Historiadores do nvel de Jos Honrio Rodrigues, entre outros, tm mostrado que sempre que os descendentes e atualizadores da Casa Grande percebem que polticas sociais transformadoras das condies de vida dos pobres e marginalizados, do um golpe de estado por medo de perderem o nvel escandaloso de sua acumulao, considerada uma das mais altas do mundo. No defendem direitos para todos, mas privilgios de alguns, quer dizer, deles. O atual golpe obedece mesma lgica.

H muito desalendto e tristeza no pas. Mas este padecimento no ser em vo. uma noite que nos vai trazer uma aurora de esperana de que vamos ultraar essa crise rumo a uma sociedade, no dizer de Paulo Freire, “menos malvada” e onde “no seja to difcil o amor”.

Leonardo Boff articulista do JB on line e escreveu A Grande Transformao, Vozes 2015. 693l

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Indianara Schmitt

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