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cultura da violncia opomos a cultura da paz 231n3h

16/03/2017 283f4x

Meu sentimento do mundo me diz que vivemos dentro de uma violncia mundial sistmica. Seria longo enumerar todos os tipos de violncia. Mas ela to globalizada que o bispo de Roma, o Papa Franciscoafirmou por trs vezes, que j estamos dentro da terceira guerra mundial. No impossvel que a nova guerra-fria entre os USA, Rssia e China acabe provocando um conflito nuclear.

Seesta tragdia ocorre, ser o fimdo sistema-vida e daespcie humana. Este estado de permanente beligerncia se deriva da lgica do paradigma civilizatrio que foi lentamente se formando durante sculos at chegar ao seu paroxismo nos nossos dias: a iluso de o ser humano ser um “pequeno deus” que se colocasobreas coisas para domin-las e acumular benefcios, custa da natureza e de naes inteiras. Perdemos a noo de nossa pertena Terra e de que somos parte da natureza. Essa conscincia nos levaria a uma confraternizao com todos os seres desse belo planeta.

urgente uma nova relao para com a Terra e para com a natureza, feita de sinergia, respeito, convivncia, cuidado e sentido de responsabilidade coletiva.

Esta relao convivial sempre esteve viva em todas as culturas, do Ocidente e do Oriente, especialmente, em nossos povos originrios que nutrem para com a Terra profundo respeito.

Na nossa cultura temos a figura paradigmtica de So Francisco de Assis, atualizada pelo bispo de Roma, Francisco, em sua encclicaLaudato Si: cuidando da Casa Comum.Proclama opoverellode Assis “o santo padroeiro de todos os que estudam e trabalham no campo da ecologia...para ele qualquer criatura era uma irm, unida a ele por laos de carinho. Por isso sentia-se chamado a cuidar de tudo o que existe”(n.10 e 11). Com certo humor recorda “que So Franciscopedia que, no convento, se deixasse sempre uma parte do horto para as ervas silvestres crescerem” (n.12) pois elas a seu modo tambm louvam a Deus.

Esta atitude de enternecimento levava-oa recolher as minhocas dos caminhos para no serem pisadas. Para So Francisco todos os seresso animados e personalizados. Por intuio espiritual descobriu o que sabemos atualmente por via cientfica (Crick e Dawson, os que decifraram o DNA) que todos os viventes somos parentes, primos, irmos e irms, por possuirmos o mesmo cdigo gentico de base.Por isso chamava a todos de irmos e irms: o sol, a lua, o lobo de Gubbio e at a morte.

Esta viso supera a cultura da violncia e inaugura a cultura do cuidado e da paz. So Francisco realizou plenamente a esplndida definio que a Carta da Terra encontrou para a paz: ” aquela plenitude criada por relaes corretas consigo mesmo, com as outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra e com o Todo maior do qual somos parte”(n.16 ).

O Papa Francisco parece ter realizado as condies para a paz que por todas as partes prega e pessoalmente irradia. Ele expressou emotivamente um pensamento que sempre volta na encclica: ”tudo est relacionado, e todos ns, seres humanos, caminhamos juntos como irmos e irms numa peregrinao maravilhosa, entrelaados pelo amor que Deus tem a cada uma de suas criaturas e que nos une tambm com terna afeio, ao irmo Sol, irm Lua, ao irmo rio e Me Terra”(n. 92).

Num outro lugar, encontrou a seguinte formulao, agora crtica: “ preciso revigorar a conscincia de que somos uma nica famlia humana. No h fronteiras nem barreiras polticas ou sociais que permitam isolar-nos e, por isso mesmo, tambm no h espao para a globalizao da indiferena”(n.52)

Desta atitude de total abertura que a todos abraa e a ningum exclui, nasceu uma imperturbvel paz, sem medo e sem ameaas, paz de quem se sente sempre em casa com os pais, os irmos, as irms ecom todas as criaturas.

No lugar da violncia coloca os fundamentos da cultura da paz: o amor, a capacidade de ar as contradies, o perdo, a misericrdia e a reconciliao para alm de qualquer pressuposio ou exigncia prvia.

Ao abordar o tema da paz em sua encclica. o bispo de Roma,Francisco, repete o que Gandhi e outros mestres j disseram: ”a paz no a ausncia de guerra. A paz interior das pessoas tem muito a ver com o cuidado com a ecologia e com o bem comum, porque quando autenticamente vivida,reflete-se num equilibrado estilo de vida, aliado com a capacidade de irao que leva profundidade da vida; a natureza est cheia de palavras de amor”(n.225). Num outro tpico assevera: ”a gratuidade nos leva a amar e a aceitar o vento, o Sol e as nuvens, embora no se submetam ao nosso controle; assim podemos falar de uma fraternidade universal”(n.228).

Com esta sua viso da paz e da gratuidade, ele representa um outro modo de ser-e-de-estar-no-mundo-com-os-outros, uma alternativa ao modo de serda modernidade que estarfora eacimada natureza e dos outros e no junto com eles, convivendo na mesma Casa Comum.

A descoberta e a vivncia desta irmandade csmica nos ajudar a sair da crise atual, nos devolver a inocncia perdidae nosfar ter saudade do paraso terrenal cujos sinais podemos antecipar.

Leonardo Boff articulista do JB on line e escreveu:Francisco de Assis e Francisco de Roma: a nova primavera na Igreja, Mar de Ideias, Rio 2015. 40692v

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