16/12/2015 5i3t4h
No artigo anterior publicado neste espao, o autor, aps ressaltar os pontos positivos, comeou uma acirrada crtica sobre a ilusria proposta feita pela COP21 acerca do aquecimento global. A boa inteno de todos no pode ser negada, apenas que essa inteno no boa para a vida, para a humanidade e para a Casa Comum: a forma como se quer prevenir o teto de 2C de aquecimento e caminhar at 2100 na direo dos nveis pr-industriais que eram de 1,5C. Tudo isso dever ser atingido sem atrapalhar o fluxo comercial e financeiro do mundo, decorrente do lema da Conveno:”transformando nosso mundo: a agenda 2030 para um desenvolvimento sustentvel”.
Aqui reside o n do problema. O desenvolvimento que predomina no mundo no absolutamente sustentvel, pois sinnimo de puro crescimento material ilimitado dentro de um planeta limitado. Este conseguido mediante a desmesurada explorao dos bens e servios naturais, mesmo que implique perversa desigualdade social, devastao de ecossistemas, eroso da biodiversidade, escassez de gua potvel, contaminao dos solos, dos alimentos e da atmosfera.
Depois de dezenas de anos de reflexo ecolgica, parece que os negociadores e chefes de Estado no aprenderam nada. Eles simplesmente no pensam no destino comum. S do asas fria produtivista, mercantilista e consumista, pois esse o mainstream globalizado. Ora, esse tipo de desenvolvimento/crescimento que produz o caos da Terra e a depredao da natureza. Os dados cientficos mais srios e recentes do conta de que atingimos o Earth Overshoot Day o dia da ultraagem da Terra, vale dizer, o dia em que a Terra perdeu sua biocapacidade de atender as demandas humanas. Se tomarmos como referncia um ano, j em agosto ela gastou todo o seu estoque de suprimentos para o sistema-vida. Como ficam os demais meses? Sendo assim, tem sentido ainda em falar com propriedade em desenvolvimento sustentvel para 2030? Se o bem estar do pases ricos fosse universalizado- isso foi cientificamente calculado e est at nos manuais de ecologia - precisaramos pelos menos de trs Terras iguais atual.
A COP 21 quer nos curar dando-nos o veneno que nos est matando. No sem razo e isso vergonhoso e humilhante para qualquer pessoa que se preocupa com a natureza e a Me Terra: em nenhum lugar, no documento final, aparece a palavra natureza e Terra. Os representantes so refns do paradigma cientfico do sculo XVI pelo qual a Terra no ava de uma coisa inerte e sem propsito, antes um ba com recursos colocados ao nosso bel-prazer, que a Magna Mater. De nada valeram as reflexes dos grandes nomes da cincia da vida e da Terra como, Prigogine, de Duve, Capra, Wilson, Maturana, Swimme, Lutzenberger, tendo como antecessores Heisenberg, Bohr, Schrdinger e especialmente Lovelock, sem esquecer a encclica do Papa Francisco “cuidando da Casa Comum”, entre tantos outros fundadores do novo paradigma. No texto predomina a mais deslavada tecnocracia (ditadura da tecnologia e da cincia), to duramente criticada pelo Papa em sua encclica, como se somente atravs dela nos viriam as solues messinicas para a adaptao e a mitigao dos climas. No h nenhum sentido de tica e de chamados a valores no materiais. Tudo gira ao redor da produo e do desenvolvimento/crescimento, num crasso materialismo.
Segundo o novo paradigma, baseado numa viso da cosmognese qua j dura h pelos menos 13,7 bilhes de anos, vemos todos os seres inter-retrorelacionados, cada um com valor intrnseco mas aberto a conexes em todas as direes, formando ordens cada vez mais altas e complexas at permitirem a emergncia da vida e da vida humana inteligente e portadora de criatividade.
Concordo com o maior especialista no ramo do aquecimento global, o professor da Universidade de Columbia e antes da NASA, James Hansen (cfr.no The Guardian de 14/12/2015) que ilusrio pedir s petroleiras que deixem debaixo do solo o petrleo, gs e carvo, energias fsseis, emissoras de CO2 e substitui-las por renovveis. Todas as energias renovveis juntas nem chegam a 30% daquilo que precisamos. As metas da COP21 so totalmente irrealistas, porque as energias fsseis so mais baratas e vo continuar queimando, especialmente se for mantida a economia de acumulao com as consequncias ecolgicas e sociais que acarreta.
Mas haveria uma chance: se quisermos, realmente, estabilizar o clima entre 1,5-2C o que seria ainda istrvel, dever-se-ia trocar de paradigma: ar de uma sociedade industrialista/consumista para uma sociedade de sustentao de toda vida, orientada pelo bioregionalismo e no pelo globalismo uniformizador A centralidade seria conferida mais vida em sua diversidade e no ao desenvolvimento. A produo se faria nos ritmos da natureza, nos respeito aos direitos da Me Terra e da diversidade das culturas humanas. Aqui nos inspira mais o Papa Francisco em sua encclica que os arrazoados tecnocrticos da O21. A seguir seus conselhos, estaremos pavimentando o caminho que nos conduz ao desastre.
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