14/08/2014 6b3s2l
aram-se 69/70 anos do maior ato terrorista da histria que foi o lanamento de duas bombas atmicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. No eram armas contra exrcitos, mas armas de destruio em massa, de civis, mulheres, crianas, animais, vegetao, de tudo o que vive. O copiloto Robert Lewis vendo a devastao, assustado exclamu: ?Meu Deus, o que fizemos?? O impacto foi to demolidor que o imperador Hiroto logo se rendeu tambm por este argumento:?para evitar a total extino da civilizao humana?(P.Johnson,Tempos modernos 1990,357). Ele captou sabiamente: partir de agora no precisamos mais que Deus intervenha para pr fim nossa histria. Ns nos demos os instrumentos que nos podem autodestruir. Como disse Sartre:? ns nos assenhoreamos de nosssa prpria morte?.
No final de sua vida, o grande historiador ingls Arnold Toynbee (+1975), depois de escrever muitos tomos sobre as grandes civilizaes, deixou consignada esta opinio sombria em seu ensaio autobiogrfico Experincias de 1969: ?Vivi para ver o fim da histria humana tornar-se uma possibilidade intra-histrica capaz de ser traduzida em fato no por um ato de Deus mas do homem?.
O insuspeito Samuel P. Huntington, j falecido, antigo assessor do Pentgono e um analista perspicaz do processo de globalizao, no trmino de seu O choque de civilizaes diz: ?A lei e a ordem so o primeiro pr-requisito da civilizao; em grande parte no mundo elas parecem estar evaporando; numa base mundial, a civilizao parece, em muitos aspectos, estar cedendo diante da barbrie, gerando a imagem de um fenmeno sem precedentes, uma Idade das Trevas mundial, que se abate sobre a Humanidade? E para terminar o cenrio valem as palavras do famoso historiador Eric Hobsbawm que fecha seu livro Era dos extremos (1995) com esta grave advertncia:?O futuro no pode ser a continuao do ado?nosso mundo corre risco de exploso e imploso?Tem que mudar?e a alternativa para uma mudana da sociedade, a escurido?. No issos que estamos vendo?
Portanto, os cenrios no so nada rseos. Mas quem pensa nestas ameaas que pesam sobre nosso destino? Os chefes de Estado de transormaram antes em gestores da macroeconomia do que governantes de seus povos. E os ?capos? das grandes corporaes transnacionais s pensam em lucrar e lucrar indefinidamente s expensas da demolio das fundaes materias da vida e da superexplorao de povos inteiros como a Grcia, Portugal, Espanha e Itlia.
O fato que depois da inveno perversa das armas nucleares, a produo da mquina de morte se sofisticou ainda mais com outras armas: qumicas, biolgicas, bacteriolgicas, eletrnicas, nanotecnolgicas que podem destruir toda a humanidade e a biosfera visvel por 25 formas diferentes. A razo alcanou seu mais alto grau de irraciionalidade e de loucura. Vivemos tempos que brincam com o suicdio coletivo.
Geralmente esta a lgica dos bruxos da cincia: se podemos, quem nos impedir de realizar o que podemos? Depois da violncia da economia, como est ocorrendo com uma fria inaudita em vrios pases do mundo, particularmente na Europa, vem, via de regra, a violnca das armas.
Em muitas partes do mundo h conflitos que se acirram cada vez mais. H os que aventam a possibilidade da utilizao de armas nucleares tticas, pequenas que no matam muita gente, mas tornam a regio por 15 a 20 anos inabitvel por causa da radioatividade e com a eroso gentica de muitos seres vivos, como ocorreu em Chernobyl na Ucrnia e est ocorrendo em Fukushima no Japo.
Vale a pena ler o livro do ex-assessor de Franois Mitterand, Jacques Attali, Uma breve histria do futuro (2008). Descreve trs ondas do futuro: o hiperimprio (os USA em decadncia); o hiperconflito (balcanizao do mundo com guerras regionais cada vez mais letais). A violncia cresce a ponto de degenerar numa guerra de destruio em massa generalizada. Ento, imagina Attali, a humanidade se dar conta de que pode realmente se autodestruir. Finalmente se torna socialista, no por ideologia mas por necessidade: s temos esta Terra e devemos repartir seus recursos escassos seno morreremos. Surge a onda da hiperdemocracia planetria.
Attali termina o livro se perguntando: e o Brasil nisso tudo? Ele mesmo responde:?Se h um pas que se assemelha ao que poderia tornar-se o mundo, no bem e no mal, esse pas o Brasil. Nele encontramos todas as dimenses do hiperimprio, tudo o que prepara o hiperconflito e tudo o que anuncia a hiperdemocracia?. Cabe a ns refletir seriamente sobre que futuro estamos preparando, miniatura do futuro bom ou da desgraa sobre toda a vida na Terra?
Leonardo Boff, telogo e escritor
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