Uma revoluo na evoluo - Jornal Cruzeiro do Vale 5x6k2d

Uma revoluo na evoluo qt3i

02/04/2015 4a4a5y

H uma percepo generalizada de que o ser humano de hoje algum que deve ser superado. Ele no acabou ainda de nascer, mas est latente dentro dos dinamismos do processo evolucionrio. Esta busca do homem/mulher novos talvez seja um desses anseios que jamais fizeram progresso na histria.

Demos dois exemplos. O pensamento mesopotmico produziu a epopia de Gilgamesh (sculo VII a.C) que muito se aproxima do relato bblico da criao e do dilvio. O heri Gilgamesh, agustiado pelo drama da morte, busca a rvore da vida. Quer encontrar a Uta-Napishim que escapara do dilvio e que fora imortalizado, vivendo numa ilha maravilhosa onde a morte no reinava mais. Em sua caminhada, o deus Sol (Shamash) lhe apostrofa: ?Gilgamesh, a vida que procuras jamais irs encontrar?. A divina ninfa Siduri o adverte:? quando os deuses criaram a humanidade, deram-lhe como destino a morte; eles retiveram para si a vida eterna. Gilgamesh, melhor farias encher o ventre, gozar a vida dia a dia e de noite; alegra-te com o pouco que tens em tuas mos?.

Gilgamesh no desiste. Chega ilha da imortalidade. Ganha a rvore da vida e regressa. No seu retorno a serpente bafeja a rvore da vida com seu hlito ftido e a rouba. O heri da epopia morre desiludido e vai ?ao pas onde no h retorno, onde a comida p e barro e os reis so despojados de suas coroas?. A imortalidade permance uma busca perene.

Os nossos tupi-guarani e apopocuva-guarani criaram a utopia da ?terra sem males? e a ?ptria da imortalidade?. Eles viviam em constante mobilidade. Da costa de Pernambuco, de repente, se deslocavam para o interior da selva, junto s nascentes do rio Madeira. De l, outro grupo se punha em marcha at atingir o Peru. Da fronteira do Paraguai, outro grupo demandava a costa atlntica e assim por diante. O estudo dos mitos pelos antroplogos desvendaram o seu significado. O mito da ?terra sem males? punha em marcha toda a tribo. O paj profetizava:?vai aparecer l no mar?. Para l rumavam esperanosos. Com ritos, danas e jejuns acreditavam tomar leve o corpo e ir ao encontro nas nuvens da ?ptria da imortalide.?Desiludidos, regresssavam para selva at ouvirem outra mensagem e ir em busca da ansiada ?terra sem males?, anelo de uma esperna imorredoura.

Os dois relatos em forma mtica expressam o mesmo que os modernos no dialeto das cincias. Estes no esperam o ser novo do cu, mas querem gest-lo com os meios que a manipulao gentica lhes fornece. Continuamos procurando e contudo, sempre morrendo, jovens ou idosos.

O cristianismo se inscreve tambm dentro desta utopia. Com a diferena de que no se trata mais de uma utopia mas dema topia, vale dizer, de um evento benaventurado e inaudito que irrompeu dentro da histria. O testemunho mais antigo do paleo-cristianismo este:? Christus ressurrexit vere et aparuit Simoni?(Lc 24,34): ?Cristo ressuscitou verdadeiramente e apareceu a Simo?.

Entenderam a ressurreio no como a reanimao de um cadver como o de Lzaro que depois acabou morrendo novamente, mas como a emergncia do ser humano novo, do ?novissimus Adam?(1Cor 15,45), do ?Ado novssimo?, como realizao plena de todas as virtualidades presentes no humano.

No encontram palavras para expressar esse fenmeno inaudito. Denominam-no ?corpo epiritual?(1Cor 15,44). Isso parece contraditrio para a filosofia dominante na poca: se corpo no pode ser esprito; se esprito no pode ser corpo. S unindo os dois conceitos, segundo os primeiros cristos, faziam jus ao fato novo: corpo mas transfigurado; esprito mas liberto dos limites materiais e com dimenses csmicas.

Dizem mais: a ressurreio no representa simplesmente um acontecimento pessoal, realizado na vida de Jesus. algo para todos e at csmico, como aparece nas epstolas de So Paulo aos Colossenses e aos Efsios. Por isso So Paulo reafirma:?ele a antecipao dos que morreram?Assim como em Ado todos morreram, assim em Cristo todos revivero?(1Cor 15,21).

Esse um discurso de f e religioso. Mas no deixa de pssuir uma relevncia antropolgica. Representa uma entre tantas respostas ao enigma da morte talvez a mais alviareira.

Se assim , temos a ver com uma revoluo dentro da evoluo. Como se a evoluo antecie seu fim bom, no auge da realizao de suas potencialidades abscnditass. Seria uma miniatura que nos mostra a que glria e a que destinao sumamente feliz somos chamados.

Assim vale viver e morrer. Na verdade, no vivemos para morrer. Morremos para ressuscitar. Para viver mais e melhor.

A todos os que crrem e aos que suspendem seu juzo, boas festas de Pscoa.


Leonardol Boff

Comentrios 193p6c

Enio Tonietto
02/04/2015 17:12
A partir do que foi dito, concordo em gnero, nmero e grau.
Falta apenas, a partir disso, incluir : Que ns sociedade " povo" nos voltemos mais e mais f, religio, culto, ao nosso Deus Criador, na pessoa de Jesus, nosso Salvador.
Com isto teremos coragem e fora para enfrentarmos a ganncia das elites dominantes ( grande imprensa, etc).

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