03/06/2016 5k353z
estarrecedora a corrupo que se constatou no Brasil nos ltimos tempos, especialmente aquela do “petrolo”, vale dizer, ligada a uma das maiores petroleiras do mundo, a Petrobrs do Brasil. Os nmeros so sempre pelos milhes de dlares que escandalizam e vo alm de qualquer bom senso, mesmo entre ladres e mafiosos.
Os organismos norte-americanos de vigilncia que espionaram a Presidenta Dilma, espionaram tambm a Petrobrs, devido ao fato de deter uma das maiores jazidas de gs e petrleo do mundo, que se encontra o Pr-Sal. Alertaram as autoridades policiais brasileiras que comearam a investigar. Encontraram uma teia imensa de corruptores e corruptos que envolviam grandes empreiteiras, altos funcionrios da Petrobrs, gente do prprio Governo, doleiros e no ausentes setores do judicirio. Beneficiados foram especialmente polticos de quase todos os partidos (e h excees louvveis) que financiavam suas custosas campanhas eleitorais com esse dinheiro da corrupo, sob forma de propinas milionrias.
Desde o incio, as investigaes que envolveram os principais rgos da justia e da polcia foram viciadas por um componente poltico. Focalizou-se particularmente, um partido, o PT que estava no poder e que seus opositores queriam, seja pela via legal da eleio ou por qualquer outro expediente ao arrepio da normalidade democrtica, alij-lo do poder. Os vazamentos, problemticos em termos legais, praticamente se concentraram no PT relevando e at ocultando o envolvimento de outros partidos, mxime da oposio. A partir da se criou praticamente uma generalizao (de si injusta porque recobre membros corretos, diria em sua grande maioria, nas bases partidrias dos municpios) de que corrupo era coisa do PT. Importa reconhecer que o partido se beneficiou dos esquemas de corrupo e at foi um dos principais articuladores. Mas seria injusto considerar que detinha o monoplio da corrupo. Essa endmica na vida poltica e social do pas e pera partidos e empresas e inclui muitssimos cidados ricos, seja sonegando altas somas de impostos, seja escondendo grande parte de suas fortuna em bancos estrangeiros ou um parasos fiscais.
Raramente em nossa histria recente temos assistido grandes empresrios sendo presos, interrogados, condenados e encarcerados. A corrupo que se havia naturalizado nos mais altos estratos dos negcios e na poltica comeou a ser desmascarada e posta sob os rigores da lei. Tal fato constitui um dado de altssima relevncia e um avano no sentido da moralidade pblica.
Mas para sermos realistas e no moralistas, no podemos reduzir a corrupo a este evento nefasto do “petrleo”. No se pode ocultar o fato de que o sistema do capital com sua cultura em sua lgica tambm corrupto, embora aceito socialmente. Ele simplesmente impe a dominao do capital sobre o trabalho, gerando riqueza sob a forma de explorao do trabalhador e devastao dos escassos bens e servios da natureza. Produz uma dupla injustia, uma social e outra ecolgica, esta ltima atualmente ameaadora do equilbrio do sistema-Terra e do sistema-vida. Thomas Piketty em seu “O capitalismo do sculo XX” deixou claro que l onde entram relaes capitalistas logo surgem desigualdades que tencionam a sociedade e fragilizam a democracia que supe uma igualdade bsica de todos face lei e os direitos garantidos com incluso social.
As nossas formas de corrupo possuem razes histricas no colonialismo e no escravagismo, em si violentos, que levavam as pessoas, para manterem um mnimo de liberdade, a corromper-se e a corromper. Inventou-se o famoso “jeitinho”. H tambm uma base poltica no arraigado patrimonialismo que no distingue o pblico do privado e leva as elites a tratarem a coisa pblica como se fosse sua e a montar um tipo de Estado que lhes garante os privilgios. Tudo isso gerou uma cultura da corrupo, como algo natural e intrnseco vida social e poltica. Os corruptos so vistos como espertos e no como criminosos, o que de fato so.
Filosoficamente pensando, qual a raiz ltima da corrupo? Talvez o catlico Lord Acton (1843-1902) que era historiador e pensador nos ajude. Diz ele: a corrupo reside fundamentalmente no poder. Sempre citada sua frase:” ”o poder tem a tendncia a se corromper e o absoluto poder corrompe absolutamente”. E acrescentava:”meu dogma a geral maldade dos homens portadores de autoridade; so os que mais se corrompem”. A tradio filosfica e pscanaltica nos tem persuadido de que em todos os seres humanos h sede de poder e que o poder no se garante seno buscando ainda mais poder. E o poder se materializa no dinheiro. Quanto mais dinheiro, mais poder.
Para consegui-lo no vale s o trabalho honesto, mas perversamente todas as formas que permitem multiplicar o dinheiro, quer dizer, asseguarar mais e mais poder. A histria mostra a iluso desta pretenso. De repente pode-se perder tudo e ficar na misria. Se no tivermos controlado nossa sede de poder e de acumulao, sentimo-nos perdidos. O antidoto a essa sede de poder e de dinheiro a honestidade, a transparncia e a salvaguarda do valor sagrado da auto-dignidade. Por que no fazem isso, os corruptos se revelam desprezveis e infelizes.
Ser que saberemos tirar essas lies da corrupo naturalizada no Brasil e que finalmente foi desmascarada?
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