Celular na sala de aula: revoluo educacional ou desastre silencioso? - Jornal Cruzeiro do Vale 58j3c

Celular na sala de aula: revoluo educacional ou desastre silencioso? o2534

Por Cristiane Imperador, coordenadora pedaggica do ensino mdio e professora 434b4l

Voc j parou para pensar no impacto do celular na sala de aula? Hoje, mais do que nunca, essa questo est em pauta. Recentemente, no Estado de So Paulo, foi aprovada a Lei n. 18.058/2024, que probe o uso de celulares e outros dispositivos eletrnicos por alunos em escolas pblicas e privadas, inclusive durante intervalos e recreios. O objetivo? Promover um ambiente mais focado no aprendizado, nas interaes sociais e no desenvolvimento pleno dos jovens.

Embora as telas sejam uma porta de entrada para o mundo digital (que oferece infinitas possibilidades educativas), o uso recreativo e descontrolado compromete aspectos fundamentais, como ateno, sade mental e interao social. Estudos mostram que o excesso de telas reduz a capacidade cognitiva, fragmenta a ateno e impacta negativamente no desempenho escolar. Para piorar, o uso inadequado pode abrir espao para perigos como jogos de aposta, que carregam riscos de vcio e prejuzos emocionais e sociais.

Quem nunca ouviu falar do famoso “Tigrinho” ou de jogos que prendem os jovens por horas, prometendo prmios e reconhecimento instantneo? Essas prticas, atraentes primeira vista, escondem armadilhas srias. O vcio em jogos eletrnicos j reconhecido como doena pela OMS (Organizao Mundial de Sade), equiparando-se a outros transtornos de dependncia. No difcil entender o motivo: mecanismos de recompensa mantm os jogadores presos, trocando o mundo real por uma iluso viciante.

Alm disso, dispositivos digitais transformaram profundamente o funcionamento intelectual e a relao que os jovens mantm com o mundo. Paradoxalmente, enquanto dominam as redes sociais, encontram dificuldades para, de modo crtico, avaliar, processar e sintetizar informaes. As prticas digitais das novas geraes concentram-se em atividades recreativas, o que limita o desenvolvimento de competncias informticas essenciais e impacta diretamente no desenvolvimento escolar.

Nas escolas, o impacto do celular vai alm da sala de aula. Ele interfere na socializao e at prejudica o sono dos jovens. A nova gerao, fluente em linguagem digital, tornou-se imediatista e impaciente, esperando respostas rpidas e vivendo em uma constante sensao de que “o amanh no importa”. Como alertou a Unesco, em 2023, embora as tecnologias digitais possam facilitar a aprendizagem em alguns contextos, h poucas evidncias de que melhorem o desempenho escolar. Pelo contrrio: so frequentemente associadas a quedas no rendimento e aumento das distraes.

Por outro lado, importante reconhecer que os celulares no so intrinsecamente ruins. Quando usados com propsito, podem se tornar aliados na educao. Plataformas de aprendizagem, aplicativos interativos e at ferramentas de organizao pessoal so recursos valiosos que podem ser explorados dentro de um plano pedaggico bem estruturado. Contudo, para que isso ocorra, necessrio definir regras claras e proporcionar formao tanto para professores quanto para alunos, a fim de garantir o uso produtivo da tecnologia.

A proibio dos celulares nas escolas, portanto, no deve ser vista como um ataque tecnologia, mas como uma tentativa de restabelecer prioridades. O ambiente escolar deve ser um espao de concentrao, dilogo e construo de conhecimento. Precisamos da internet, sim, mas de forma intencional.

Alm disso, essencial refletir sobre o papel dos pais e educadores nesse cenrio. Muitas vezes, os pais cedem s telas como forma de manter os filhos ocupados, enquanto escolas enfrentam o desafio de equilibrar o uso das tecnologias com mtodos tradicionais de ensino. No entanto, a questo vai alm de simplesmente “permitir ou proibir”. Trata-se de ensinar os jovens a desenvolverem uma relao saudvel com o mundo digital, compreendendo tanto seus benefcios quanto seus perigos.

A soluo no est na proibio completa, mas na moderao e no equilbrio. Como diz Michel Desmurget, autor de A Fbrica de Cretinos Digitais, preciso limites claros: nada de telas antes dos 6 anos, perodos controlados de uso e, acima de tudo, mais momentos de vida real. Menos telas, mais interaes. Menos distraes, mais foco no que realmente importa.

Uma abordagem interessante inserir no currculo escolar o dilogo sobre o uso consciente da tecnologia. Oficinas, palestras e discusses sobre cidadania digital, tica on-line e o impacto das redes sociais podem preparar os jovens para lidar com as complexidades do mundo conectado. Isso inclui ensin-los a identificar informaes falsas, proteger seus dados pessoais e reconhecer os sinais de dependncia digital.

A tecnologia no o vilo. Ela uma ferramenta e, como toda ferramenta, depende de como a utilizamos. Cabe a ns (pais, professores e sociedade) ensinar as novas geraes a us-la com sabedoria. Com a colaborao de todos, possvel transformar o celular de um obstculo em um aliado no aprendizado.

E voc, como acredita que podemos encontrar esse equilbrio?

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